Ilustração: Zope |
Um dos maiores e mais duradouros conflitos da história pode, enfim, ter um desfecho nesta quinta-feira (2/9). A convite dos Estados Unidos, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, retomarão as negociações diretas em busca de um acordo pacífico. Mas, por mais que uma solução amigável seja possível, o ceticismo ao redor do mundo é grande.
Daniel Santiago Chaves, pesquisador do Laboratório do Tempo Presente do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs-UFRJ), diz que existe a possibilidade de o encontro ser frutífero, mas acredita que o prognóstico é pessimista. “Sempre há esperança no encontro, bem como sempre houve insucesso. É sempre muito difícil — quem sabe impossível — prever”, frisa.
O maior impasse nas conversações é, claramente, a construção de colônias israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Abbas pede que os assentamentos não sejam retomados no dia 26 de setembro, quando acaba o prazo de congelamento temporário iniciado em outubro passado. “Israel sofre forte pressão interna para criação de novos assentamentos e manutenção dos antigos. Possivelmente as maiores dificuldades se darão na cessão dos espaços sagrados da cidade antiga de Jerusalém, bem como dos recursos naturais aquíferos e dos territórios em tensão na Cisjordânia. Além disso, a questão das centenas de milhares de refugiados palestinos e dos assentados judeus será definida no reconhecimento ou não do 'direito do retorno' e do Estado judeu, colocando uma baliza religiosa sob a jurídica”, explica Daniel.
A questão religiosa é outra grande ameaça às discussões. Em recente aparição, o rabino Ovadia Yosef disse que “uma praga deveria cair sobre os palestinos”. Para Daniel, a declaração é repudiosa. “A ocupação imperialista inglesa, sem dúvida, foi um dos grandes alicerces históricos para os conflitos atuais. Até hoje, esse tipo de retórica de mobilização sectária continua a ter sucesso, encontrando no outro o inimigo necessário para a justificativa do poder, desde o instituído até as pequenas comunidades. Ainda que a postura ultra-ortodoxa e fundamentalista de Yosef seja conhecida, quando disse, dez anos atrás, que os árabes deveriam ser aniquilados, sempre se espera que uma liderança política de influência parlamentar tenha um caráter mais ponderado.”
Mas mesmo envolto em descrenças e desconfianças, Israel parece propenso à solução pacífica. “A ideia do reconhecimento de um Estado palestino é definitivamente melhor do que a intrusão cada vez maior de árabes em uma Israel que se pretende judia, puramente judia, pelas suas lideranças radicais”, conclui o pesquisador.
Nesta quinta-feira, Abbas e Netanyahu podem estar prestes a escrever um novo capítulo na história mundial ao cessar uma guerra cruel e chegar a um acordo que mudará o mundo. Não será fácil, mas o caminho para paz começa a ser trilhado.