- Olá Fernanda, tudo bem?
- Tudo, Marina. Quanto tempo a gente não se vê, né? Você ainda mora lá no Méier?
- Não, menina. Já saí faz tempo. Estou morando no Centro agora.
- No Centro?! – pergunta Fernanda espantada.
- É. Meu pai comprou um apartamento num condomínio lá na Lapa. Eu estou adorando. Tudo fica muito mais perto: trabalho, lazer...
Todo esse diálogo serve de ilustração para falar do processo revitalização das áreas residenciais do Centro da cidade do Rio de Janeiro.
Visando obter a opinião de um especialista, a equipe do Olhar Virtual foi até a professora Raquel Coutinho, do Programa de Pós-graduação em Urbanismo (PROURB), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, saber qual o seu ponto de vista em relação à questão.
“O processo de revitalização do Centro da cidade do Rio de Janeiro é algo que vem acontecendo há algum tempo. Durante o início do século passado, ele possuía um número relevante de áreas residenciais – devido ao pouco desenvolvimento das demais regiões da cidade – e era visto como um bairro bom de se morar. Logicamente antes da administração do Prefeito Pereira Passos, e sua transformação conhecida pelo apelido de “Bota-Abaixo”. Nesse período ocorreu a abertura da avenida Central, que resultou na demolição de 580 imóveis, o alargamento de diversas ruas, dentre elas a rua Uruguaiana, a rua da Carioca e a avenida Marechal Floriano, abertura de túneis e outras intervenções que levaram à perda definitiva de grande parte de edificações de significativo valor histórico arquitetônico.
A partir dos anos 50, quando todos já haviam deixado suas residências no centro e se mudado para a periferia, a região passou a carregar o estigma de área comercial. Neste período houve um déficit no número casas e apartamentos.
Nos anos 70/80, inúmeras políticas fizeram com que o estigma de área comercial fosse se desenvolvendo. O que não quer dizer que a mesma tenha tido um “boom” de residências. Até por que, isso seria impossível devido a uma lei, que vigorou até os anos 90, proibindo a construção de prédios ou casas residenciais no local.
No começo da década de 90, o Governo Municipal (da época) iniciou um processo de recuperação do Centro dando incentivos fiscais; revitalizando espaços culturais como, por exemplo, Cinelândia, Lapa e Passeio Público; investindo em transportes; entre outras coisas.
Na minha opinião, as pessoas estão voltando a ver o bairro do Centro como uma área residencial, graças a esses conjuntos de iniciativas. Além do mais, para alguns cariocas está menos perigoso morar no centro do que na Zona Norte, onde o índice de violência é maior por causa do grande números de favelas”.