Ilustração: Caio Monteiro |
Usuários desmedidos dos novos aplicativos tecnológicos, os adolescentes brasileiros aderiram a mais uma moda: o “sexting”, fenômeno criado por jovens americanos há cinco anos e que chegou ao Brasil trazendo preocupação à Justiça. O termo é originado da união de duas palavras em inglês: “sex” (sexo) e “texting” (envio de mensagens). Nessa onda, garotos e garotas de 12 a 17 anos enviam fotos sensuais de seus corpos nus ou seminus usando celulares, câmeras fotográficas, e-mail, salas de bate-papo e sites de relacionamentos.
O desejo de ganhar fama virtual tem levado meninas a publicarem fotos ou vídeos só de lingerie ou biquíni, agarrando ou beijando outras na boca, mostrando closes de decotes ousados e até autografando os próprios seios com o nome de suas páginas ou de colegas. Já os meninos preferem ficar de cuecas, sem camisa ou abraçar garotas simulando atos sexuais. O envio de mensagens de texto eróticas pelo celular ou pela internet também é praticado pelos adolescentes.
O psicólogo e professor da UFRJ, Sócrates Álvares Nolasco, acredita que esse comportamento dos adolescentes é uma tentativa de eles se inserirem na sociedade. “Creio que essa seja uma tentativa de seduzir e, ao mesmo tempo, uma expressão dos valores do mundo em que vivemos, centrados tanto na tecnologia quanto no direito de o sujeito fazer qualquer coisa”, afirma. O desejo de serem adultos antes da hora faz com que esses meninos e meninas não procurem por intimidade com seus parceiros. “Essa forma de vida aposta na sedução e nela fica retida, sem abrir espaço para relações mais profundas”, explica o psicólogo.
A falta de preparo para construir relações é apontada por Nolasco como uma das principais consequências do “sexting”. Outro impacto da atitude está na dependência que ela pode causar. “O sujeito fica dependente das excitações para se sentir vivo, tudo deve ser excitante, divertido e ousado”, afirma o professor.
O “sexting” pode gerar problemas mais graves que ultrapassam as barreiras da lei. Em entrevista a um portal de notícias, o promotor Tales de Oliveira, do Departamento de Execução da Infância e Juventude de São Paulo, alertou para o risco da pornografia infantil e da prostituição. “Vejo isso como um perigo muito grande. O pedófilo ou o aliciador percebe isso e começa a ganhar intimidade. Isso acaba sendo porta para prostituição”, alegou o promotor.
A mea culpa da mídia e da tecnologia
Com o barateamento das máquinas digitais e dos celulares com câmera, a cada dia aumenta a quantidade de adolescentes com acesso às diversas tecnologias. Nolasco chama o exibicionismo do “sexting” de vaidade e acredita que ela sempre existiu. O que a tecnologia faz para contribuir com a situação é estimular a vaidade. “Afinal, a tecnologia lucra com o exibicionismo”, explica o psicólogo.