Duas vezes por semana, Samuel Pereira, 17 anos, sai de sua casa no bairro de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, pega duas conduções e vem à UFRJ para treinar futebol. Samuel, estudante da 8ª série do Ensino Fundamental da Escola Municipal São Vicente, tem um sonho, tornar-se um jogador de futebol profissional e, há cinco meses, integra a equipe juvenil do Projeto Educação Esportiva da UFRJ.
O projeto existe há dois anos mas, em agosto 2008, oficializou-se com o apoio do Pró-reitoria de Pessoal (PR-4). Nele, um grupo de servidores técnicos-administrativos da UFRJ, além de ensinar o esporte mais praticado no país, leva cidadania e perspectivas melhores de vida para jovens de várias partes do estado.
Durante todo o ano, estão abertas as inscrições para o Projeto, que atende também aos filhos e dependentes dos funcionários da universidade e aos moradores da Vila Residencial. A iniciativa trabalha com quatro categorias distintas — mirim, infantil, juvenil e feminino — que englobam crianças e adolescentes com idade entre 11 e 17 anos. Ao se inscrever, o jovem será encaminhado ao time correspondente à sua faixa etária.
A triagem dos inscritos é realizada por três bolsistas da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, que funcionam como assistentes técnicos e preparadores físicos. Os jogadores entram em campo, e os destaques são, então, selecionados para compor os times que disputam a Copa Light — competição organizada pela Light S.A., composta de 20 equipes — e o Campeonato da Federação do Estado do Rio de Janeiro. Aqueles que precisam aprimorar seu potencial esportivo permanecem na equipe e trabalham com os demais durante os treinamentos, que acontecem de segunda a sexta-feira, das 14h às 16h, no campo da Prefeitura Universitária.
— Sempre fizemos questão de não dispensar crianças que, por ventura, não integrassem as equipes principais. Por isso, elas continuam nos treinos, até porque esse projeto tem cunho educacional e de inserção social — explica Humberto Rêdes, professor da EEFD envolvido na iniciativa.
Hoje, cerca de 100 alunos participam do Projeto Educação Esportiva da UFRJ. Engana-se quem pensa, entretanto, que o projeto visa apenas ensinar futebol às equipes. O esporte é, segundo os coordenadores, apenas uma porta de entrada para esses jovens. Atividades paralelas são desenvolvidas com eles. Na última semana, por exemplo, os meninos e meninas foram visitar a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, organizada de 23 a 25 de outubro, pela Pró-reitoria de Extensão (PR-5). Além disso, uma parceria do Projeto com o Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) vai conceder, a partir de 29 de outubro, um curso de Informática a esses adolescentes.
Os alunos recebem uniformes para dias de treino e de jogos. Há, também, um esforço dos coordenadores em conseguirem apoio para amparar aqueles sem condições de arcar com despesas relacionadas às competições: a Caixa Assistencial Universitária do Rio de Janeiro (Caurj), por exemplo, financiou os exames médicos necessários aos jogadores inscritos pela UFRJ na Copa Light.
— Procuramos oferecer sempre o melhor para eles, no sentido de valorizá-los e aumentar a auto-estima desses meninos. Buscamos trabalhar outros aspectos além do futebol, como a importância da escola e da amizade. Insistimos muito na necessidade de espírito de equipe. E verificar as mudanças no comportamento deles é algo gratificante para nós — destaca Nelson Fontes Vial, um dos coordenadores do projeto.
Melhorias
Jorge Luiz do Carmo membro da coordenação do Projeto de Educação Esportiva da UFRJ, salienta a necessidade de uma melhor infraestrutura para os jogadores. De acordo com ele, seria necessária uma sede que dispusesse de vestiários maiores e de espaços para abrigar os jovens em dias de chuva. Jorge acredita que o ambiente ideal para isso será um dos Centros de Convivência contemplados nas diretrizes do Plano Diretor UFRJ 2020. Neles, estão previstos, entre outras coisas, ginásios poliesportivos.
A coordenação da iniciativa destaca também a importância de outras unidades acadêmicas da UFRJ, como Psicologia, Serviço Social e Odontologia, por exemplo, se unirem à EEFD e participarem do evento: “já temos importantes parceiros. Além da Escola de Educação Física, o Gabinete do Reitor, o Banco do Brasil, a Caurj, a PR-5, a PR-3, a Prefeitura e o Sintufrj nos dão apoio. Mas precisamos estender nossas parcerias com novas unidades da UFRJ”, enfatiza Vílton Cardoso, criador do Projeto.
Para o superintendente da PR-4, Roberto Gambini, a política de Pessoal da universidade deve ir além da confecção de folha de pagamento e do controle da folha de ponto. Isso explica o porquê de a Pró-reitoria ter investido no Projeto de Educação Esportiva: “a política de Pessoal deve permitir o amplo desenvolvimento de seus servidores. E isso se dá, também, através da integração social, da descoberta de talentos e de capacidades que não aparecem exclusivamente no dia a dia do trabalho. Felizmente, a resposta desse Projeto foi mais do que satisfatória. Um sonho que começou com uma brincadeira, afinal o futebol tem seu aspecto lúdico, está se transformando em coisa séria. Acredito que estamos carregando e transferindo esperança para essas crianças, pois ali o futebol se configura em perspectivas de alcançar um futuro melhor”, finaliza Gambini.