Olho no Olho

Plim – plim: a diversidade sexual no ar

Aline Durães

imagem olho no olho

Os tempos estão mudando e a mídia também. Se há alguns anos, a diversidade sexual ainda era tabu nos meios de Comunicação, hoje em dia, os personagens homossexuais já não se constituem em novidade para a maior parte do público. O cinema e a televisão, principalmente, vêm incluindo, cada vez mais, a discussão sobre esses novos sujeitos sociais em suas narrativas.

Prova disso é que, de 1931 a 2003, foram realizados cerca de 450 filmes que abordavam, direta ou indiretamente, relacionamentos homossexuais. No ano passado, o filme “O Segredo de Brokeback Mountain”, que levou às telas a relação amorosa entre dois cowboys estadunidenses, foi sucesso de crítica e recebeu, entre outras, a indicação ao Oscar de Melhor Filme.

Os sitcoms norte-americanos inauguraram na TV o debate sobre a diversidade sexual. Hoje, por exemplo, já existem dois seriados – Queer as Folk e The L Word – que possuem como temática principal a homossexualidade masculina e feminina, respectivamente, e que ajudam a desmistificar estereótipos e a problematizar as especificidades da realidade dos GLBTTs (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais).

As tele-novelas brasileiras perceberam o novo filão e também têm apostado na discussão da diversidade sexual. Desde 2003, a Rede Globo produziu seis novelas do horário nobre que referenciavam o tema, sem, contudo, exibir qualquer ato mais ousado de carinho entre pessoas do mesmo sexo, iniciativa que gera críticas entre os movimentos gays organizados.

Com uma abordagem explícita ou não, é notório o espaço que os homossexuais vêm conquistando na mídia. Para entender as razões e possíveis conseqüências desse processo, o Olhar Virtual entrevistou Luciana Zucco, professora da Escola de Serviço Social, e Denílson Rodrigues, docente da Escola de Comunicação. Confira a opinião dos pesquisadores.

 

Luciana Zucco
Professora da Escola de Serviço Social (ESS)

"Ao incluir os homossexuais no discurso midiático, os meios de comunicação estão reconhecendo um outro segmento, que é uma categoria, inclusive, de consumo, afinal foi constatado economicamente que os GLBTs compõem um público que consome muito, tanto que é cada vez mais evidente o mercado que se cria em torno do tema da diversidade sexual. A mídia aponta expressões da realidade, coisas que estão acontecendo e demandas que estão sendo colocadas; ver homossexuais na televisão é uma das demandas, assim como o é ver atores negros.

Nesse sentido, a grande mídia percebeu que não precisa estereotipar, já que o número de pessoas que expõe sua orientação sexual está maior. Não podemos pensar, entretanto, que a imagem dos gays nas novelas ou em seriados é uma imagem fidedigna da realidade. Não existe apenas aquele homossexual que aparece na novela. A mídia mostra um tipo, mas tem vários outros. Ela pontua traços da realidade e contribui para as pessoas entenderem que existem elementos a mais na realidade, que vão além do que elas pensam que existe ou querem que exista.

A sociedade não passa a aceitar a diversidade sexual só por ver um homossexual na TV; a presença dele ali, no entanto, gera discussão em vários espaços de sociabilidade: gera debates na família, na escola, na universidade. Isso impulsiona o assunto e faz com que as pessoas comecem a pensar sobre o tema. É essa discussão diversificada que a mídia ajuda a criar que é importante."

Denílson Rodrigues
Professor da Escola de Serviço Social

“A mídia tem um papel importante para quebrar tabus. Ela pode participar do processo de mudança da mentalidade social e, em última análise, um papel propositivo no sentido de superar certos preconceitos sociais. Em relação à diversidade sexual, que ela tem avançado muito.

Se em um primeiro momento, os espectadores tinham acesso a uma série de estereótipos negativos, como o gay escandaloso, por exemplo, agora o que se verifica é um processo contrário, pois se passou a higienizar e a idealizar o modelo de gay – atores e atrizes muito bonitos, educados, modelares. No início, isso é interessante porque rompe com o estereótipo negativo, mas acho que, com o tempo, a abordagem será normalizada, com a substituição das imagens idealizadas por histórias diversificadas.

A questão da imagem do gay gera preconceitos contra aqueles que não se enquadram no padrão midiático, assim como acontece com os heterossexuais. Esse tipo de imagem associa, não raro, a questão da homossexualidade com níveis altos de consumo, o que é inverdade, já que também existem gays pobres, lésbicas que moram em favelas etc.

Para além de fazer apologia, o importante é a mídia colocar pontos de vista diferentes, porque isso suscita a discussão. Sair de um estereótipo negativo e ir para uma versão higienizada não é o ideal. O interessante é ter visões diversificadas para fazer da questão um debate plural, o que fará com que a decisão do preconceito fique a cargo da esfera da opinião das pessoas. "