Em vez de usar uma grande quantidade de solo para cobrir os aterros sanitários, o pesquisador do laboratório de Geotecnia do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe-UFRJ), Ronaldo Izzo, propõe a utilização de um material bem menos nobre como cobertura: o próprio lixo, após o processo de compostagem. O projeto possibilita a disposição de um volume maior de resíduos no mesmo espaço e, segundo Izzo, pode ser implantado em um campo experimental já no ano que vem. O aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, é uma opção viável, onde se poderá comprovar na prática a tese de doutorado que ele defendeu.
A utilização do composto, que reduz o volume do lixo em até 70%, é feita em duas camadas, uma com granulação menor e a outra, a mais profunda, com granulação maior. A técnica é responsável por mais uma grande vantagem do projeto de Izzo: o controle de entrada de água. O pesquisador explica que a entrada de água não pode ser excessiva, pois isso geraria instabilidade do maciço de resíduos (como houve no Morro do Bumba, em Niterói) e produziria uma grande quantidade de chorume. Ao mesmo tempo, alguma quantidade de água, ainda que pequena, precisa penetrar o aterro, para que haja a decomposição do lixo.
O projeto, que foi desenvolvido ao longo de quatro anos de pesquisa, tem origem alemã. Ronaldo Izzo visitou o país europeu e, por três meses, observou as tecnologias utilizadas na área de disposição de lixo. Ele afirma que o Brasil se diferenciará da Alemanha na tecnologia desenvolvida por utilizar resíduo fresco, enquanto os alemães utilizam resíduo inerte, ou seja, que recebe um pré-tratamento mecânico-biológico.
Atraso em relação à Europa
Para Izzo, o caráter imediatista das ações dos governantes brasileiros para esse tipo de problema explica o porquê de um projeto que parece tão simples não ter sido desenvolvido antes aqui no Brasil. Ele afirma que os benefícios do projeto aparecem em longo prazo, com o fechamento do aterro. Além disso, ele argumenta que esse tipo de tecnologia, que em países europeus já é bastante antiga, está chegando ao Brasil só agora.