De Olho na Mídia

Jornalismo e Economia: uma relação antagônica?

Vanessa Raposo

Ilustração: Caio Monteiro

No plano onde interesses econômicos e jornalísticos se encontram existe muito a ser rediscutido. Essa é a opinião de Cristina Rego Monteiro, jornalista, doutora em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da UFRJ (ECO/UFRJ) e pesquisadora do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência da UFRJ (Netccon/UFRJ).

Os pontos de intercessão não são poucos: vão do campo dos esportes aos cadernos criminais, tornando óbvias as relações da sociedade com o mundo que a rodeia. Como conciliar durante uma partida de futebol, por exemplo, a imparcialidade jornalística com a publicidade das marcas estampadas nas arquibancadas ou nas vestimentas dos jogadores? A questão que vem ganhando volume seria uma das chaves para compreender a organização do pensamento contemporâneo.

Cristina Monteiro lembra uma frase de Robert Happé, estudioso holandês das religiões do mundo: “O nosso sistema passou do dogma religioso para o econômico”. Com a afirmativa, Cristina indica que longe de uma “iluminação das idéias” – como o sugerido pela corrente Iluminista – caminhamos no interior de um processo de enrijecimento do pensamento, calcado em interesses econômicos. “Existe uma convenção de padrões”, diz Cristina, “que vinculam atividades e interesses comercializáveis.” Para a pesquisadora, o próprio debruçar sobre a questão já pode ser um indicativo     dessa tentativa de aprisionar a comunicação em prol de interesses comerciais.

Carnaval e Ensino

 Um caso recente (um “sintoma”, nas palavras da pesquisadora) da questão ficou famoso no último carnaval paulistano. Trata-se do incidente em que a escola de samba Rosas de Ouro foi obrigada pela emissora que exibiria o desfile a alterar um verso de seu samba-enredo. O motivo seria uma alusão feita a uma patrocinadora do grupo carnavalesco.

Cristina Monteiro aponta para o ocorrido como nada mais do que um incidente de uma corrente muito maior. “Hoje existe uma grande lacuna no processo de individualização. Saímos do fluxo de formação individual para ser meramente econômica. O episódio é uma manifestação reflexiva disso.” Neste sentido, desloca-se o sentido da informação mais para os interesses supérfluos de tendências momentâneas do que para o valor cultural da festa popular brasileira. O espaço de discussão e de crescimento pessoal se tornaria mínimo.

Dados colhidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) podem sugerir a tendência, não apenas brasileira,  de lento amadurecimento das gerações jovens. No Rio de Janeiro, um quarto do total de filhos vivendo sob o teto dos pais tem mais de 30 anos. O grupo de adultos com mais de 30 anos que moram com os pais representaria 29% da faixa.

ombater a tendência mundial ao automatismo e à atitude acrítica tornou-se, para Cristina, um dos principais focos das universidades de Comunicação e Jornalismo. “Quando a gente percebe um jornalismo puramente de agência ou simplesmente voltado para interesses comerciais, nota-se uma desvalorização da profissão”, afirma. “Todas as manifestações de livre-pensamento são válidas e o aluno precisa compreender o que ele está fazendo. Não pode ser um mero técnico”, conclui.

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