Entrelinhas

A invenção do Brasil interpretada por Afonso Carlos

Stéphanie Garcia Pires – AGN/Praia Vermelha.

capa do livro

A biblioteca Pedro Calmon da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no campus da Praia Vermelha, reabre nesta terça-feira, 23 de outubro, com a doação de aproximadamente 11 mil volumes que integravam a coleção de Afonso Carlos Marques dos Santos, falecido em 2004. Graduado em História pelo Instituto de Filosofia e Ciências e Humanas (IFCS/UFRJ), com doutorado na Universidade de São Paulo (USP) em História Social , Afonso Carlos foi coordenador do Forum de Ciência e Cultura (FCC/UFRJ) por quatro anos, até 2002, e recebe homenagem com o lançamento de sua última obra, “A invenção do Brasil: ensaios de história e cultura”.

José Tavares, coordenador da biblioteca Pedro Calmon, explica que o livro é basicamente composto por artigos anteriores — escritos entre 1979 e 1997 por Afonso Carlos —, tendo como pano de fundo a construção da idéia de nação brasileira. A abordagem começa desde o período colonial, quando a corte portuguesa precisou se instalar no Brasil, e se estende até o século XX, com a política do patrimônio. O autor investigou a construção social a partir do ponto de vista dos homens que agiram e produziram o presente, e usa a reflexão a respeito do passado como base para questionar a atualidade brasileira. Na apresentação do livro, feita por Manoel Luiz Salgado Guimarães, professor associado da UFRJ, a “invenção do Brasil”, a que o título se refere, é aquela causada pela “ação do homem no tempo”.

Na reabertura da biblioteca, a exibição da coleção de Afonso Carlos, fica ao encargo de José Tavares, que destaca a importância da doação para o estabelecimento. Além de quadros, diplomas e documentos pessoais, foram concedidas obras raras que analisam as características da cidade do Rio de Janeiro. Professores, estudantes e aventureiros da leitura em geral ganham com o acesso a livros que tratam desde a literatura ocidental clássica, até a história de Portugal, do Brasil e do Rio de Janeiro, passando por artes, arquitetura e urbanismo.

Afonso Carlos, antigo professor de Teoria e Metodologia da História no IFCS, caracterizou-se por sua dedicação à cultura brasileira, dando especial atenção ao universo carioca. Desenvolvendo sua trajetória profissional na transição do Brasil para a democracia, superando a Ditadura Militar, o historiador analisou a construção do Estado Nacional, e estudou a política através do patrimônio cultural. Seu nome está vinculado a diversos livros, entre os quais se destacam “No rascunho da nação. Inconfidência no Rio de Janeiro” e “O Rio de Janeiro de Lima Barreto”.

José Tavares lembra ainda da participação de Afonso Carlos em projetos importantes. O pesquisador idealizou e organizou a Biblioteca Carioca visando compor um arsenal de obras que colocassem a cidade do Rio de Janeiro como personagem central, construindo, assim, um painel histórico-cultural. Trabalhou também, ao lado de José Luiz Werneck da Silva — autor de livros que tratam da história brasileira, como “O feixe e o prisma”, no qual discute o autoritarismo no Estado Novo —, no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.