No dia 14 março, a Universidade Federal do Rio de Janeiro realizou mais uma Aula Magna, solenidade que marca o início das atividades acadêmicas. Denominada Magna (de magnífico) por ser de iniciativa do reitor, que pode convidar outras autoridades respeitadas nos meios culturais e científicos para proferí-la; a aula contou com a presença do reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor Naomar Monteiro, um dos grandes propagadores de um ensino superior preocupado em resgatar o seu papel na construção da cultura nacional.
O cerne da discussão foi a proposta de nova concepção de educação superior, alicerçada na interdisciplinaridade, chamada Universidade Nova. José Luiz Fontes Monteiro, reitor em execício da UFRJ, abriu a solenidade afirmando que o tema a ser discutido era bastante pertinente, pois trazia à tona uma questão demasiadamente abordada pela universidade nos vários encontros a respeito do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).
O reitor da UFBA, Naomar Monteiro, iniciou sua palestra fazendo um breve das diversas concepções de universidadeao longo da história. Segundo ele, são quatro: Universidade Escolástica, Clássica, de Pesquisa, e Social ou Corporativa. Das citadas, Naomar afirmou que “a mais próxima da proposta discutida hoje, era a última, pois questionava o método centralizado de construção do conhecimento; ou seja, era favorável à interdisciplinaridade”.
Logo em seguida, Naomar explicou, de maneira sucinta, um pouco do processo de transformação das universidades brasileiras. A seu ver, parte delas se espelharam em modelos estrangeiros como, por exemplo, a UFBA, que se propôs em construir uma Coimbra (universidade) dentro da América. Isso sem falar da Universidade de São Paulo que, segundo ele, em 1935 incorporou o modelo de ensino à la Sorbone.
Semelhanças com a reforma universitária feita pelos militares, que defendia a aliança com a oligarquia acadêmica nacional, o conhecimento fragmentado e uma estrutura similar a das universidades européias do século XIX, foram as grandes críticas feitas ao atual modelo universitário no Brasil. Na opinião de Naomar, é preciso mudar esta situação. “Precisamos criar um novo modelo. Algo diferente de tudo que estamos vendo. Algo que não simplesmente altere o paradigma vigente e, sim, que o mude”.
Projeto Universidade Nova
A alteração na estrutura curricular da universidade brasileira, por meio da implantação de um regime de três ciclos de educação, é a grande proposta feita pelo projeto Universidade Nova.
O primeiro ciclo consiste em Bacharelados Interdisciplinares (BI), que propiciariam a formação universitária geral e contribuiriam para descoberta de novas vocações. O segundo, trata-se de uma formação profissional em licenciaturas ou carreiras específicas. E o terceiro, será uma formação acadêmica científica ou artística na pós-graduação.
Na concepção de Naomar Monteiro, esse novo modelo acabará com a atual estrutura curricular, que apresenta-se confusa, com sistemas de títulos desarticulados e denominações minuciosas. “Além de contribuir para esse reajuste, tal estruturação ajudará a superar problemas como a precocidade nas escolhas das carreiras, que, por vezes, acarreta no abandono do curso pelo estudante; o fim da seleção limitada e pontual; e, sobretudo, terminará com o viés mono-disciplinar na graduação — currículos estreitos e bitolados” — ressaltou o reitor, complentando que “esse novo processo permitirá aos estudantes um maior conhecimento a respeito do universo acadêmico”.
A grande indagação em relação à nova estrutura girou em torno do processo de seleção para o Bacharelado Interdisciplinar (primeiro ciclo). Naomar explicou que “a melhor maneira de ingresso seria um teste geral de capacidade e potencial, que não se assemelhasse ao ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), pois o mesmo apresenta certa instabilidade, comprometendo, assim, o caráter democrático”.
Existem semelhanças com a reforma universitária do governo?
Naomar Monteiro também fez questão de afirmar que o projeto não está atrelado à proposta de reforma universitária do governo. “A Universidade Nova não poderia ser uma complementação da reforma universitária, já que a mesma é um projeto de lei. Não acredito em mudanças na estrutura curricular do ensino superior baseadas em decretos, principalmente porque as universidades possuem autonomia”, destacou.
O candidato à reeleição para reitor da UFRJ, professor Aloísio Teixeira, se mostrou extremamente favorável em colocar o tema em discussão. Segundo ele, essa é a oportunidade de esclarecimento. “Não é verdade que o projeto, Universidade Nova, está atrelado à reforma. Ele começou numa reunião com reitores de universidades baianas, que colocaram no seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) essa questão. Nós também discutimos isso em nosso plano e verificamos a existência de um paralelismo grande entre o que falamos e a intenção de transformar a universidade brasileira num ambiente mais democrático, capaz de receber um contigente maior de jovens” — concluiu Aloísio.