A comemoração dos 140 anos da Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história, foi um sucesso de público. O seminário, realizado nos dias 14 e 15 de setembro, no campus da UFRJ na Praia Vermelha, aconteceu no Auditório Pedro Calmon, localizado no Palácio Universitário, que esteve lotado durante todo o evento. Promovido em parceria com entidades como a Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj), Fórum de Ciência e Cultura (FCC), Laboratório de Estudos Marxistas (Lema), entre outras, o seminário abordou diferentes análises sobre a comuna, com mesas que discutiam pensadores, a educação e o papel do operário.
Na quarta-feira (14/9), a programação teve início com a convidada francesa Claudine Rey, membro da Association les Amis de La Commune de Paris, que contribuiu com uma perspectiva histórica do que foi a Comuna. Em seguida, compuseram a mesa os professores José Paulo Neto e Carlos Nelson Coutinho, ambos da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, e Ronaldo Coutinho, professor da UFF. A mesa denominada “A Comuna nas obras de Marx, Lênin e Gramsci” debateu a influência do movimento revolucionário nas obras desses pensadores e suas consequências para os acontecimentos políticos posteriores, como a Revolução Russa, em 1917.
“O poder popular e as organizações dos trabalhadores” foi o tema da segunda mesa do dia, que trouxe nomes como Nikos Seretakis. O representante do Partido Comunista da Grécia fez um panorama sobre o que seu partido representa e pelo que tem lutado em seu país, neste momento em que a Grécia passa por uma crise financeira. A presença de Valério Arcary, professor do Cefet e um dos fundadores do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), falou sobre a possibilidade de um movimento socialista na atualidade. Para encerrar o dia de debates, o militante do Movimento Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, levantou reflexões à plataia em razão do que é a organização política da esquerda atual.
Para começar o segundo dia de palestras do seminário, a mesa “Trabalho, economia e auto-gestão operária” contou com a presença do professor Marcelo Badaró, historiador da UFF, o operário da fábrica autogestiva Flaskô, Pedro Santinho e o docente Mario Duayer, da UERJ e também da UFF. As palestras buscaram, respectivamente, fornecer um panorama histórico do que eram os trabalhadores durante a Comuna de Paris com Badaró, o que é, atualmente, a classe operária, com exemplos como a de Santinho na Flaskô, empresa privada ocupada por essa classe que a dirige desde 2003 e, por fim, uma análise mais teórica, em que Duayer resgata o papel do trabalho nas obras de Marx.
Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ, e Jane Almeida, doutoranda da Unicamp, foram os palestrantes da quarta mesa do evento: “Educação, emancipação e revolução”. Leher enfatizou a importância do caráter público da Educação e de como esta pode ser regulada pelo povo, sem a ingerência do Estado. Já a pesquisadora optou por refletir sobre a educação laica. Jane analisou o fim do ensino religioso como requisito para a promoção de uma educação universal. “Como afirmou Trotsky, [a Comuna] foi uma ‘aurora pálida’ da Revolução de 1917. A grande e verdadeira revolução universal do socialismo ainda está por vir”.
O evento chegou ao fim com uma atividade cultural do grupo Gatig (Núcleo contra-hegemônico) que apresentou a peça teatral Os filhos da Comuna.