No dia 22 de março, Dia Mundial da Água, diversas cooperativas de reciclagem participaram, pela segunda vez, da limpeza da orla da Praia do Fundão (atrás da Escola de Educação Física), com o objetivo de promover uma conscientização popular. O lixo recolhido foi exposto no pátio do prédio da Reitoria como forma de manifestação. Posteriormente, foi exibido o documentário “Vai dar Praia no Fundão”, trazendo à tona questões sobre o meio ambiente e o papel das universidades e das cooperativas populares.
Entre as cooperativas participantes estavam a Coopama, a Coontrabom, a Coop. Fundão e a Coomub, todas elas articuladas à Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), projeto de extensão da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da UFRJ. O ITCP foi criado em meados de 1995 e no ano de 2000 ganhou um prêmio da ONU por estar entre as dez incubadoras mais ativas pela erradicação da pobreza no Brasil. Uma de suas funções é dar assessoria às cooperativas, levando os conhecimentos produzidos na universidade até elas.
O graduando de geografia e membro do ITCP, Fernando Mamari, cobrou o cumprimento do Decreto 5940/06, publicado em outubro pelo governo federal. Pela lei, os órgãos públicos federais devem destinar seus resíduos recicláveis às associações e cooperativas de catadores. No entanto, o lixo da Cidade Universitária é destinado ao Aterro de Gramacho, onde fica exposto ao ar livre, ameaçando as comunidades próximas que ficam a mercê de doenças. Esse quadro poderia ser diferente se o lixo fosse cedido a essas cooperativas, dando margem à reciclagem e tratamento dos resíduos, além de gerar trabalho e renda.
Sobre a situação caótica da orla da Ilha do Fundão o estudante argumentou: “nós estamos em um dos maiores centros de conhecimento do país e a orla do campus está esse lixão”. O voluntário também sugeriu a inserção da “calourada” no movimento nos próximos anos. A iniciativa do ITCP recebe o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da UFRJ (Sintufrj), da Pró-reitoria de Extensão (PR-5) e da Prefeitura Universitária.
Outras cooperativas e ONGs não vinculadas ao ITCP também participaram do evento, como a “Manancial da Vida e Liberdade”. Esta organização é composta, majoritariamente, por ex-presidiários que buscam reintegração social e trabalham em prol do meio ambiente e do cidadão. “Estamos conscientizando o povo e nos conscientizando a cada dia”, relatou, emocionado, um dos egressos. O grupo recebe ajuda da Prefeitura do Rio e conta com uma rede de apoios. Dona Leda, da Vila Cruzeiro, voluntária do projeto e desempregada há dez anos, falou orgulhosa de seu trabalho e das oportunidades que a cooperativa oferece. “Quem quer buscar recuperação consegue”, afirmou.
A assistente de comunicação da Coontrabom, Niedja Guedes falou do tempo em que era possível tomar banho de praia na região e alertou: “a preocupação em não poluir tem que partir do povo e também dos donos de empresas que lançam resíduos na Baía. Essa degradação é o reflexo de atos de não-cidadania”. Ela ainda sugeriu que “a limpeza deve ser feita no fundo da Baía e não apenas superficialmente”.