Resenha

Trabalho e moeda hoje: a chave para o pleno emprego e a estabilidade dos preços

capa do livro

Por: Francisco Conte

“Manter um décimo da população na ociosidade por um período indefinido é totalmente inverossímil – o tipo de coisa em que nenhum homem poderia acreditar se não tivesse a cabeça entulhada de idéias insensatas durante anos e anos”. A citação de Keynes, posta como epígrafe à obra de Randall Wray, mostra-se, hoje, ainda mais atual do que há três quartos de século. Entretanto mais que advertência, a referência a Keynes denuncia a retomada de certos pressupostos conceituais acerca dos fundamentos da teoria econômica e o resgate de determinadas preocupações quanto às finalidades das políticas públicas. Na contramão do pensamento neoliberal, Wray, que é professor de Economia na Universidade do Missouri, EUA, sustenta ser necessário e factível compatibilizar pleno emprego e controle da inflação.

O livro, que apesar de discutir temas de grande relevância teórica, assume um caráter de divulgação e tem o mérito, entre outros, de chamar a atenção para certos autores esquecidos ou pouco conhecidos por nós. Entre eles Innes e Abba Lerner. De Innes, Wray retoma a idéia heterodoxa de que a moeda seria na verdade, sempre, uma relação de débito e crédito, sendo que o Estado, por suas próprias dimensões, alcançaria um papel preponderante no conjunto dessas transações. Assim, a aceitação da moeda estatal se originaria mais da necessidade de se pagar tributos do que da imposição de leis que lhe consegue o curso forçado. Uma das conseqüências importantes dessa argumentação é que, ao contrário do que se sustenta com freqüência, a situação usual da Economia seria apresentar desequilíbrios fiscais. A partir de Lerner, talvez a principal fonte da obra, Wray retoma a teoria das finanças funcionais que sustenta que as políticas fiscal e monetária do governo devam ser avaliadas exclusivamente com base nos seus resultados econômicos e não em doutrinas que prescrevam, de antemão, o que é ou não saudável. Este tipo de abordagem defende a determinação de um déficit público que induza a economia à utilização máxima dos recursos produtivos, já que, deixada a seu livre curso, a poupança privada seria insuficiente para tal.

A partir desses pressupostos, Wray retoma políticas públicas de pleno emprego, onde o Estado recupera as funções keynesianas de empregador de última instância e de impulsionador do conjunto das atividades econômicas. Embora muitas dessas propostas pareçam mais adequadas às economias desenvolvidas, não deixam de fornecer importantes aportes aos que, abaixo do equador, se recusam a insensatez de condenar segmentos crescentes dos seus contemporâneos ao desemprego e à marginalidade.

Autor: L. Randall Wray

Editora: Co-edição Editora UFRJ e Contraponto Editora