O Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, primeira instituição científica do país, comemorou, nos dias 15, 16 e 17 de junho, os 189 anos de sua fundação. Palestras, oficinas, mostras de vídeo, exposições, visitas guiadas e passeios ecológicos foram oferecidos gratuitamente ao público durante a celebração.
O evento, patrocinado pela Petrobras e pela FUJB, recebeu cerca de 15 mil pessoas. O público, principalmente crianças do ensino fundamental, encontrou algo diferente das tradicionais exposições permanentes. Em um espaço nos jardins da Quinta da Boa Vista foram montadas oficinas e exposições. Os laboratórios de pesquisa do museu nas áreas de antropologia, botânica, geologia/paleontologia, entomologia, invertebrados e vertebrados apresentaram sua produção acadêmica de forma simples e interativa. Aptos a esclarecer as dúvidas do visitante, estagiários e pesquisadores conduziam as oficinas sobre: Aracnídeos, Os mosquitos e a dengue, Insetos aquáticos, Crustáceos, A mumificação do Egito, Exposição de cerâmica, Taxidermia, Alga viva, O que os ossos nos revelam, Arte rupestre brasileira, Meteoritos e o Sistema Solar, Atelier de Hieróglifos, Escavação em Paleontologia, Conhecendo nosso Patrimônio Cultural , Pinturas Faciais, Contando Lendas do Egito Antigo e Cultura Material Indígena.
Na sede do museu, diversas palestras eram ministradas pelos pesquisadores. Enquanto, alunos do curso de Artes Cênicas — Indumentária da Escola de Belas Artes da UFRJ circulavam, caracterizados com figurinos de época, por entre as oficinas, atiçando a curiosidade dos que passavam. Paralelamente, era possível agendar visitas guiadas e passeios ecológicos ou assistir à mostra de vídeos.
Sergio Alex, diretor do Museu Nacional, afirma que “o objetivo do evento é levar para fora do museu o que as pessoas não poderiam ver nem visitando, porque é o resultado do que é feito dentro dos laboratórios e salas de aula”. O evento é um treino para o ano que vem, em que o Museu Nacional irá comemorar com um evento ainda maior seus 190 anos de fundação e 200 da chegada da família real ao Brasil.
Uma pequena parte do acervo do museu, que é reservado aos pesquisadores, foi exposta ao público, nesses três dias. Jogos e brincadeiras educativas eram a atração principal das oficinas, com a proposta de apresentar a ciência de forma divertida e permitir que o público entrasse em contato com os objetos de estudo. Para Sergio Alex, “sempre que se fala em museu, se pensa em um lugar em que não se pode tocar em nada. Para as crianças isso é frustrante e nesse evento elas estão podendo tocar em tudo, desde meteorito a esqueletos”.
“Enquanto as crianças participam de brincadeiras educativas e jogos, nós passamos os conceitos científicos, mas são necessários mais recursos para que iniciativas como essa sejam mais freqüentes. A cada dia isso parece estar mais próximo de acontecer”, aponta o paleoartista Maurílio Oliveira.
Os 189 anos de memória do Museu Nacional, sediado no Paço Imperial de São Cristóvão, antiga residência da família real e imperial brasileira, foram comemorados em um clima de reestruturação, tanto da política de difusão e democratização do conhecimento produzido, quanto da estrutura física. A reforma da fachada do museu, a inauguração de novas salas, como a de paleontologia, inaugurada no último dia 14, e a construção de novos prédios são algumas das mudanças na parte estrutural. “O Museu está passando por uma reforma de dentro para fora, mostrar trabalhos de qualidade é um convite para que o museu seja mais visitado”, afirma Maurílio de Oliveira.
Oficinas: ciência e história ao alcance das mãos
Há um mês, cerca de 40 alunos do curso de Artes Cênicas — Indumentária e Cenografia da EBA/UFRJ, sob a coordenação da professora Ivete Dibo, se empenharam para finalizar todos os preparativos. Eles foram responsáveis pela oficina de caracterização, que realizava pintura facial nos visitantes e também pela criação e execução da ambientação do evento. “Para os alunos é uma oportunidade de colocar em prática e exercitar o que aprendem na universidade”, afirma Ivete Dibo.
Na oficina de Botânica — reprodução de angiosperma, coordenada pelas pesquisadoras Maria Célia Rodrigues e Heloísa Alves de Lima, o público pode compreender o processo de reprodução das plantas, olhando flores na lupa e na saída ganhavam uma muda cultivada no Horto do Museu. Maria Célia defende que “a melhor forma de mostrar o museu, é divulgar o que é produzido nele para o público. Uma casa científica não pode ser fechada, deve oferecer atividades para a população”.
Fernanda Pimenta, estagiária de arqueologia do museu, acredita que “poucos colégios e pais levam as crianças a museus. O contato com a ciência na infância pode gerar futuros pesquisadores, facilita com que a criança associe na prática o conhecimento apresentado na teoria e ajuda a escolha da carreira. Por isso a importância da relação escola, museu e universidade/pesquisa”. Criar uma área de acesso entre o conhecimento acadêmico e as áreas de fora, estabelecer uma conexão entre as pessoas do próprio museu e estimular as visitas são as propostas do evento. “Trabalhos como a reconstituição facial computadorizada das múmias e a oficina de montagem dos dinossauros realizados pelos paleoartistas são totalmente desenvolvidos pela instituição, mas as pessoas desconhecem”, revela Wagner Martins, diretor administrativo do Museu Nacional.
A instituição possui o maior acervo de história natural e antropologia da América Latina. A Seção de Assistência ao Ensino da instituição disponibiliza uma coleção didática de empréstimo. Animais marinhos, animais empalhados, esqueletos, insetos, fetos podem ser solicitados por escolas ou instituições científicas. Odete Gomes, funcionária da SAE, garante que “o material serve para que as aulas não sejam apenas teóricas e para que os alunos possam entrar em contato com o que está sendo estudado”.
A existência de eventos como esse ajuda a estabelecer uma sólida parceria entre museus e escolas e contribuiu para a formação de um público consumidor de ciência e cultura. “É importante do ponto de vista do conhecimento e afetivo criar o hábito de visitar o museu. A maioria das pessoas que visitam o museu quando criança criam esse laço com o lugar e retornam mais tarde”, defende Wagner Martins.