No Brasil, a carência de nutrientes essenciais para a saúde humana não é determinada pela classe social nem pela condição econômica. O Estudo Brasileiro da Osteoporose (Brazos), realizado recentemente pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), revelou que brasileiros ricos e pobres não se alimentam de maneira adequada. O estudo derrubou o mito do tradicional prato brasileiro — composto por feijão, arroz, bife e salada — ser suficiente para garantir uma alimentação saudável, pois, embora seja rico em macronutrientes, não contém todos os micronutrientes necessários, cálcio nem vitaminas.
Segundo Andréa Ramalho, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC/UFRJ) e consultora do Ministério da Saúde (MS), este estudo ganhou amplo destaque em diversos meios de comunicação por dois motivos: pelo detalhamento da pesquisa e pela parcela da população nela contemplada.
— Este estudo confirmou o que outros realizados anteriormente já haviam evidenciado, só que, desta vez, a alimentação brasileira foi abordada mais detalhadamente. A pesquisa foi executada nos moldes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as entrevistas foram feitas face a face, possibilitando um registro mais completo e preciso. Além disso, o estudo contemplou a população com idade a partir de 40 anos, faixa etária quando diversos problemas de saúde, também decorrentes da má alimentação, começam a se manifestar — explica a professora. Na pesquisa, além de destacar que a obesidade está atingindo níveis cada vez mais alarmantes em todo o mundo, enquanto a desnutrição registra queda nos índices, a professora ressalta que ela ainda é um grande problema devido ao fato de a diminuição de casos ocorrer de forma heterogênea em vários lugares, como no Brasil.
De maneira genérica, Andréa Ramalho elogia a cobertura midiática sobre a alimentação dos brasileiros, mas pede atenção às “dietas da moda” destinadas a quem deseja emagrecer.
— A cobertura midiática sobre nutrição é de excelente qualidade. Nunca a mídia esteve tão sensível e atenta às questões relacionadas à alimentação. Os meios de comunicação estão cumprindo seu papel de informar e educar a população; com informação as pessoas podem cobrar ações do governo no que diz respeito à saúde alimentar. Além disso, os dados publicados sobre obesidade são importantíssimos para alertar os brasileiros, principalmente pelo aumento do número de ocorrências da obesidade de grau 3 e da obesidade pediátrica. Entretanto, considero preocupante a divulgação de “dietas da moda”, sem um embasamento científico. Elas não agregam qualidade à alimentação, pois se baseiam somente em alimentos líquidos ou no consumo de apenas um tipo de alimento por dia. Também me preocupo com a divulgação de “dietas das celebridades”, que fazem as atrizes famosas perderem peso rapidamente. Essas dietas até podem ser publicadas, desde que venham acompanhadas de uma avaliação feita por um profissional de saúde — observa.
A professora ainda ressalta a dificuldade de incorporar hábitos alimentares mais saudáveis pois, ao contrário do que muitos pensam, não se trata simplesmente de uma questão econômica, mas também sócio-cultural. Para Ramalho, “o consumo de alimentos tem a ver com hábitos sociais e tabus. Não adianta somente falar com a pessoa o que ela deve ou não comer. Para uma alimentação variada e saudável fazer parte do cotidiano dos brasileiros, é preciso um programa de envergadura nacional e de ampla veiculação, como as campanhas de incentivo ao aleitamento materno, ao uso de preservativos e à vacinação.”
Andréa Ramalho então dá a dica para quem quer adotar uma alimentação mais correta: “A dieta adequada é aquela que se ajusta à rotina da pessoa e fatores como a prática de exercícios físicos devem ser observados. Mas, independentemente disso, toda alimentação deve conter todos os grupos de alimentos, principalmente proteínas de alto valor biológico, carboidratos simples e complexos, vitaminas e minerais. As gorduras devem ser consumidas com cautela, especialmente as saturadas. Além disso, o mais importante é combinar corretamente a qualidade com a quantidade. Comer uma banana por dia não soluciona a carência de nutrientes”, afirma a nutricionista, lembrando que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão de, no mínimo, quatro ou cinco porções de hortaliças e frutas por dia, mas essa quantidade pode chegar a nove porções por dia.