Sonhos, Momentos, Emoções: Técnicas e Gravuras é a obra recém-lançada pela artista plástica Lêda Watson, graduada pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Lêda é, atualmente, uma das artistas mais importantes e conceituadas da Gravura contemporânea no Brasil. A obra conta sua trajetória pessoal e profissional de mais de 40 anos, trazendo depoimentos de amigos ilustres da artista plástica. O livro traz também descrições de procedimentos de técnicas de Gravura de diferentes níveis de complexidade.
Reconhecida nacional e internacionalmente, suas gravuras ganharam força artística na França, onde Lêda também se diplomou na École de Beaux-Arts – Sorbone, de Paris, e se especializou ao frequentar por três anos o Atelier Friedlaender.
Durante sua trajetória profissional, ministrou cursos de Gravura em Metal e palestras na Universidade Católica de Lima, Peru; Escola Nacional de Artes Plásticas da Nicarágua; Universidade Nacional de Heredia, na Costa Rica; Universidade Central da Venezula, em Caracas; e no Museu de Arte Contemporânea da Cidade do Panamá. No Brasil, ajudou a criar o primeiro Núcleo de Gravadores de Brasília, em 1981, e o primeiro Museu de Arte de Brasília, em 1985.
Atualmente, retomou o ensino da Gravura em seu próprio atelier, realizando sua retrospectiva de 40 anos de Gravura em metal em setembro do ano passado em Brasília, quando apresentou mais de 50 trabalhos e lançou seu livro.
Para saber mais sobre a vida e a obra de Lêda Watson, o Olhar Virtual conversou com a artista. Confira a entrevista.
Olhar Virtual: Como surgiu a ideia de publicar Sonhos, Momentos, Emoções: Técnicas e Gravuras?
A ideia surgiu da necessidade de deixar em um livro, devidamente registrados, os 40 anos de atuação e aprendizado permanente, todas as técnicas aprendidas e minha experiência nessa área. Tive a oportunidade de frequentar excelentes ateliês de Gravura e não poderia guardar esse aprendizado só para mim.
Olhar Virtual: Sua trajetória artística tem expressiva repercussão nacional e internacional e a senhora é, hoje, uma das mais importantes e conceituadas artistas da gravura contemporânea no Brasil. Conte-nos, sinteticamente, como foi trilhar esse percurso.
Inicialmente apenas uma escolha pela complexidade da técnica transformou-se, aos poucos, numa verdadeira paixão que perdura até hoje. Tento, desde 1976 em Brasília e nos países onde dei cursos, transmitir aos alunos esse aprendizado.
Olhar Virtual: A senhora participou e implementou muitos projetos culturais e artísticos ao longo de sua carreira. O que representa para a senhora ter uma vida dedicada à arte?
Representa a realização permanente de um projeto de vida através de 40 anos de fidelidade à Gravura em metal e à arte.
Olhar Virtual: No início de sua carreira, a senhora se inspirou em algum artista?
A inspiração sempre existiu na minha vida quando, ainda criança, convivi com meu avô Pedro Campofiorito e com meus tios Hilda e Quirino Campofiorito, e foi se confirmando no convívio com meus professores e com o gravador e mestre Friedlaender, em Paris, por mais de três anos.
Olhar Virtual: Sonhos, Momentos, Emoções: Técnicas e Gravuras traz depoimentos de personalidades importantes, como Antonio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet e José Guilherme Merquior. Como é ter em seu livro depoimentos a seu respeito de pessoas tão ilustres?
É motivo de imensa satisfação profissional, sobretudo por saber que tanto eles quanto todos os outros depoimentos que aparecem no livro só existiram por corresponderem a uma apreciação positiva e sincera sobre meu trabalho. Sem isso, apesar da amizade que nos unia, jamais teria havido nenhum depoimento.
Olhar Virtual: A senhora acredita que sua obra será fonte de inspiração e referência para futuros gravadores?
É difícil precisar até que ponto a influência de um artista acontece realmente. É inegável, no entanto, que a paixão, a coerência e a qualidade da minha gravura são exemplos que podem motivar os futuros gravadores.
Olhar Virtual: Como a senhora avalia o ensino de Arte no Brasil atualmente? É necessária a criação de políticas de incentivo à produção artística no país?
É de difícil avaliação num momento em que os rumos da arte são novos, as perspectivas e o tempo são diferentes. Espero que, apesar da busca por resultados rápidos e imediatos, o estudo de uma técnica difícil e desafiante como a Gravura não desestimule os alunos. Não vejo prioridade nas políticas de incentivo na área das Artes Plásticas. Basta dizer que o projeto deste livro, apesar de ter sido aprovado pela Lei Rouanet, teve enorme dificuldade em obter patrocínio das empresas em geral. O governo do Distrito Federal (um terço do valor total) e a minha família (meus filhos e eu) me permitiram realizar este projeto. Será isso o ideal? Parece muito pouco. Apesar disso, pretendo distribuir gratuitamente este livro a todos os cursos de gravura no Brasil, em faculdades ou a particulares. É a minha missão.