Julia Vieira
“A Terra é o berço da mente humana, mas podemos viver eternamente em um berço?” – Tsiolkovsky, físico russo.
Há 50 anos, em outubro de 1957, começou a libertação do homem de seu berço e, pela primeira vez, um artefato humano foi lançado na órbita terrestre. Tínhamos a partir de então não apenas o domínio da terra, como também um acesso ao espaço. Muitas pessoas desconhecem o Sputnik, não fazem idéia da revolução que seu lançamento causou. Não imaginam quantas escotilhas seu pioneirismo abriu para muitos outros procurarem alcançar o espaço cósmico.
Na corrida espacial, em meio à Guerra Fria, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) saiu na frente do Ocidente. Lançar o Sputnik foi manter no ar uma mensagem subjetiva de superioridade tecnológica e militar e de ameaça aos americanos. Os EUA só conseguiram alcançar a União Soviética quando, em 1969, foram os primeiros a levar o homem à lua.
Hoje, a questão espacial não é unicamente ligada ao militarismo e ao poderio bélico, também é associada às novas tecnologias que facilitam e melhoram nossas vidas, como o GPS e os serviços metereológicos. Para abordar essa questão, o Olhar Virtual conversou com Naelton Mendes de Araújo, bacharel em Astronomia do Observatório do Valongo/UFRJ.Quais os motivos que impulsionaram a corrida para a conquista do espaço?
Entre 1º de julho de 1957 a 31 de dezembro de 1958, tivemos o Ano Geofísico Internacional, que objetivou investimentos em pesquisa científica, dentre diversas áreas. Nesse momento começou a corrida espacial, quando as duas maiores potências até então, EUA e URSS declararam a intenção de lançar o primeiro satélite artificial da Terra.
Mostrar poderio tecnológico era mostrar também poder político. E no contexto da Guerra Fria isso era extremamente importante. Usando a tecnologia para produzir mísseis balísticos intercontinentais estavam também transmitindo uma mensagem de superioridade tecnológica e militar. A tecnologia desenvolvida nesta disputa mudou o mundo.
Qual foi a importância do Sputnik? Em um contexto pós-Sputnik, quais foram os feitos espaciais mais consideráveis?
O Sputnik foi extremamente importante, seu lançamento inaugurou a exploração do espaço de maneira triunfal. Em 1957 não se esperava que a URSS tivesse capacidade de fazer um artefato tão grande. O Sputnik abriu caminhos para outros satélites artificiais serem lançados, transmitirem um número cada vez maior de informações e permanecerem em órbita por muito mais tempo que os quatro meses do Sputnik.
Em 12 de abril de 1961, acredito ter acontecido o grande marco pós-Sputnik: o lançamento do foguete Vostok, que levou Yuri Gagarin a ser o primeiro homem em órbita. Não apenas os artefatos teriam o privilégio de conhecer o espaço.
Quais as maiores aplicabilidades da exploração do espaço e quais as tendências dessa exploração?
O espaço cósmico se configura fonte inesgotável de recursos energéticos e materiais. Dominar as viagens espaciais será um diferencial marcante no futuro. Infelizmente, ainda não é possível estimar o tempo para que isso aconteça. Estes artefatos já passaram pelo estágio de ser armas de destruição em massa; pela exploração do cosmos, possivelmente, se tornarão instrumentos de progresso tecnológico pacífico.
Viagens tripuladas não estão muito em voga. Em um futuro imediato, teremos naves automáticas e sondas explorando os planetas e o espaço interplanetário. Naves mais baratas e seguras, capazes de tornar mais próxima da realidade algumas das aplicações da energia e dos materiais cósmicos.De que maneira o Brasil se insere na exploração do espaço?
Infelizmente, como em muito outros ramos, o Brasil chegou muito tardiamente a esta área de ponta em tecnologia. Ainda não dispomos de um foguete capaz de satelizar um objeto. Chegamos a construir satélites funcionais, mas ainda somos muito dependentes de lançadores estrangeiros.
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