Foi realizada, no dia 11 de agosto, a palestra “Só a ciência pode ser conhecimento? Ou nem ela?”, ministrada pelo professor Alberto Oliva, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Auditório Rouxinho (CCMN). O evento foi parte da semana “A Química em Tudo – a UFRJ no Ano Internacional da Química”, promovida pelo Instituto de Química (IQ), entre os dias 8 e 12, cujo objetivo principal era divulgar a importância dos processos químicos e das novas tecnologias desenvolvidas no campo da Química.
Nesse contexto, o professor Alberto Oliva expôs suas reflexões sobre o conhecimento científico como “crença verdadeira e justificada”: “É um conceito muito interessante, que até hoje se discute, mesmo por aqueles que estão envolvidos apenas e tão somente com a produção do conhecimento científico, e não tanto com questões filosóficas mais gerais. Ninguém em sã consciência apresentará como conhecimento algo que sabe que é falso. Por isso, conhecimento é a expressão, a veiculação da verdade. Quem apresenta uma teoria vai ter que justificar cada passo dado para chegar a ela, como ela vai indo de uma coisa para outra, e por aí vai”, explicou.
Leva-se em conta que em alguns domínios do saber há mais dificuldade para se chegar à verdade. Como, por exemplo, na Filosofia, onde há tantas correntes de pensamento que é difícil determinar uma só como a verdadeira. “Esse conceito de verdade não se aplica universalmente a todos os campos do saber, como a Filosofia e a Arte. Esse é um ponto importante: mesmo nas Ciências Humanas e Sociais também há uma dificuldade para se estabelecer verdade, muito mais do que quando se lida com fenômenos naturais. Eu não posso ler um poema perguntando se aquilo é verdadeiro ou falso, isso não faz sentido.”
Apesar de ter escrito um livro publicado pela Editora Zahar chamado Anarquismo e Conhecimento (um dos três que fazem parte da coleção Filosofia Passo a Passo), o professor não se denomina um adepto do Anarquismo Epistemológico, corrente que acredita que a ideia de que a ciência pode ou deve operar apenas com regras fixas e universais é irrealista e nociva, indo contra a própria ciência. “Alguns defendem isso porque acham que, se você ficar muito preso às regras metodológicas, fica um pouco inibido na sua criatividade. Mas não podemos imaginar uma vida social sem regras. Seria uma anomia. Porque existem dois extremos: os que acham que o conhecimento pode ser visto apenas nele mesmo, e os que acham que o conhecimento é apenas o reflexo da vida social. A dificuldade é como integrar isso. A minha preocupação tem sido sempre essa nos livros”, enfatizou Alberto Oliva.
Critérios para definir o que é conhecimento
Para que se possa haver confirmação de conhecimento científico verdadeiro (ou pelo menos que se aproxime da verdade) numa determinada pesquisa, precisam ser levadas em conta regras de verificação e generalização do objeto de estudo, pois nenhuma ciência alcança a totalidade, elas estão sempre se inovando, se autocorrigindo. Sendo assim, as teorias que não podem ser 100% verificadas por causa do contexto e do ambiente (construção social) em que se encontram são de tempos em tempos refutadas. “Para a ciência a teoria irrefutável, o que não tem um conflito em potencial com a experiência, simplesmente não tem valor”, afirma o professor Oliva.
Ele explica que não se deve deixar convencer por teorias que podem excluir a elas mesmas: “Se tudo é relativo, por que eu vou me deixar convencer por essa teoria, que também pode ser relativa? Se tudo é construção social, por que vou me deixar convencer por essa afirmação, que também pode ser considerada construção social?” Podemos aceitar as teorias ou não. Só não se pode negar: há uma necessidade de definir critérios (de acordo com cada área de atuação) que possibilitem separar Ciência de Filosofia, de Artes, entre outras áreas. Se considerar que tudo é a mesma coisa, “por que as áreas do saber funcionam como se tivessem uma relativa autonomia entre elas, se tudo é fruto de construção social?”, questiona o professor. “São os critérios que definem atitudes, comportamentos.”
Os questionamentos sobre a Ciência Química
Foi dito que a construção social influencia no conhecimento, mas o uso que se faz do conhecimento, e não o próprio, pode influir na sociedade. Ou seja, o conhecimento gera determinado resultado, que deve ser voltado para o progresso – ou o retrocesso – da construção social. Como o professor Alberto Oliva exemplificou, em tese, o conhecimento foi o responsável não pela geração da bomba atômica, que foi desenvolvida a partir da fissão nuclear em Física.
“Bertrand Russell, grande filósofo e matemático, dizia: ‘O conhecimento levou à bomba atômica, mas não é o conhecimento que vai decidir o uso da bomba atômica, é a sabedoria.’ Isso é um problema sério. Não podemos esquecer que certas coisas têm a ver com o conhecimento, e outras coisas têm a ver com mecanismos políticos sociais de controle do conhecimento produzido”, concluiu o professor.
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