Entrelinhas

As polivalentes células animais

Raquel Oliveira – AgN/CT

capa do livro

As células animais têm recebido considerável atenção da mídia ultimamente, sobretudo devido às promessas das células-tronco; contudo, essa é apenas uma pequena ponta dos possíveis aproveitamentos do cultivo celular.

Tecnologias do cultivo de células animais: de biofármacos à terapia gênica, livro lançado no Brasil pela Editora Roca, explora esse tema. Organizado pela professora Leda Reis Castilho, em parceria com as também pesquisadoras Elizabeth Augusto e Ângela Moraes, o livro é vendido no Brasil e no exterior, além ocupar o terceiro lugar no ranking de literatura gênica da loja virtual Amazon.

Em entrevista ao Olhar Virtual, Leda Castilho comentou a elaboração do trabalho e as aplicações dos resultados obtidos pelas pesquisas do ramo.

Olhar Virtual – Como surgiu a idéia de escrever Tecnologias do cultivo de células animais: de biofármacos à terapia gênica?

A idéia surgiu porque tanto eu quanto as outras duas pesquisadoras envolvidas na edição do livro ministramos aula em Pós-graduação. Eu dou aula sobre esse tema na Graduação na Engenharia Química da UFRJ, em uma disciplina eletiva. Nós sentíamos falta de material didático para oferecer aos alunos, tanto que a nossa grande motivação foi justamente eles perguntando se havia algum livro para indicar. Então, pela falta de material didático adequado para acompanhar uma disciplina de universidade resolvemos montar o livro.

Olhar Virtual: O público alvo são os alunos especificamente?

Não só. O livro ficou bem interessante: didático, de forma que possa ser usado por alunos, mas atualizado em termos de conteúdo de pesquisa. Todos os capítulos dão conceitos fundamentais e citam resultados publicados na literatura específica, o que é muito útil também para profissionais de empresas que estão começando a trabalhar nessa área. Estamos vendo, de uns dois anos para cá, um grande aumento do interesse da indústria farmacêutica brasileira pela militância na biotecnologia farmacêutica.

Olhar Virtual: Como vocês distribuíram os temas ao longo da obra?

O cultivo de células animais em si aplica-se a vários produtos para saúde humana, mas os fundamentos são comuns a essas aplicações. Assim, dividimos o livro em duas partes. Na primeira colocamos tudo que os processos têm em comum: conceitos básicos relativos a células animais, como modificar geneticamente células animais, o metabolismo dessas células, os meios de cultura etc. A segunda parte fala em aplicações do cultivo de células animais, por exemplo, na produção dos biofármacos ou das vacinas virais. Menciona inclusive uma aplicação um pouco diferente, a fabricação de bioinseticidas, que não é baseada na área farmacêutica ou biofarmacêutica, mas inserimos porque é importante para o Brasil, devido à agroindústria.

Olhar Virtual: O livro tem artigos de diferentes pesquisadores. Como foi a seleção?

Na verdade, nós fizemos um convite a eles quando tivemos a idéia de escrever o livro. Eu e as outras organizadoras discutimos como seria o índice do livro, que capítulos e, então, decidimos quais seriam os grupos que poderíamos chamar. Queríamos, necessariamente, que fossem pessoas com experiência naquele tópico e que pudessem falar à vontade de uma experiência científica própria. Priorizamos os grupos latino-americanos. O único pesquisador que não é iberoamericano e o professor Michael Butler, da Universidade de Manitoba, no Canadá, autor do Capítulo 6.

Olhar Virtual: Então a América Latina não está atrasada nas pesquisas?

Não estamos mal em termos de qualidade, temos bons grupos, mas não muitos. Praticamente todos os pesquisadores latinos da área estão no livro.

Olhar Virtual: Mas a tendência é aumentar o número de grupos?

Sim, essa é a tendência. A área de biofármacos está se expandindo muito, então a tendência é que cresça cada vez mais o número de pesquisas e empresas nessa área, na América Latina. Na verdade, é uma tendência mundial. Temos que expandir e certamente vamos.

Olhar Virtual: Você mencionou que o livro é resultado da co-editoria de três pesquisadoras. Vocês já tinham algum projeto juntas antes? Como se formou a parceria?

Desde 2004, acontece bienalmente na UFRJ um evento internacional organizado por mim e pelo professor Ricardo Medronho, da Escola de Química (EQ), que se chama “Escola Internacional sobre a Produção de Biofármacos em Células Animais”. Além disso, criou-se a primeira edição do “Seminário Latino-Americano de Tecnologia de Cultivos Celulares”. Esses dois eventos aproximaram os pesquisadores da América Latina, em especial do Brasil. Houve uma interação muito grande do nosso grupo com o das professoras Ângela Moraes, da Unicamp, e Elizabeth Augusto, do Instituto para Pesquisas Tecnológicas de São Paulo. Nós não temos nenhum projeto de pesquisa oficial aprovado pelo CNPq de colaboração entre a Unicamp e a UFRJ, mas temos nos comunicado bastante desde 2004.

Olhar Virtual: Por fim, pode-se dizer que o cultivo de células animais beneficia a sociedade diretamente?

Sim, as aplicações são diversas e todas elas trazem um benefício para sociedade, seja através da agricultura, seja através da fabricação de produtos inovadores direcionados para a saúde humana.