Desde que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 8 de março de 1975, o Dia Internacional da Mulher, as representantes do sexo feminino vêm conquistando, cada vez mais, espaço nas diversas esferas da vida social. No esporte, essa realidade não é diferente. Nas últimas Olimpíadas, realizadas em 2004, por exemplo, a delegação brasileira, de forma inédita, foi composta por 122 mulheres, número que representou cerca de 50% dos atletas enviados pelo Brasil a Atenas. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, que ocorrerão em julho, na cidade do Rio de Janeiro, elas são promessas de boas atuações e de medalhas.
Não é apenas a participação da mulher na prática esportiva que aumenta; o desempenho das atletas nas competições também atingiu índices maiores ao longo do tempo. Basta lembrar que, em Atenas, a equipe feminina de futebol ocupou o segundo lugar do pódio, e as meninas da Ginástica Olímpica alcançaram o feito de colocar o Brasil entre as 12 melhores seleções do mundo:
— Os treinamentos têm aumentado, os trabalhos em cima da prática esportiva da mulher têm sido intensificados, as mulheres praticantes também estão em maior número, além disso, várias modalidades se abriram para as mulheres — afirma Ana Maria dos Anjos, docente do Departamento de Lutas da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD).
Para Margarida Menezes, uma das pioneiras na prática de Natação no país e professora emérita da UFRJ, a notoriedade conquistada por algumas esportistas, como a ginasta Daiane dos Santos, que, desde a vitória obtida no Campeonato Mundial de Ginástica, em 2003, tem recebido grande atenção por parte da mídia, impulsiona a participação das mulheres junto às competições esportivas. “A mulher passou a se posicionar melhor nas últimas décadas. Tudo se encaminha para sua maior participação nos esportes. A mulher brasileira percebeu que pode se projetar também através deles”, enfatizou.
Um longo caminho a percorrer
Apesar de todas as vitórias, as mulheres que se aventuram na carreira esportiva enfrentam uma série de preconceitos e barreiras profissionais. Elas lidam, mesmo hoje em dia, com dificuldades em obterem patrocínio, e o fantasma da masculinização do corpo ainda as persegue: “a praticante de esporte muda um pouco seus movimentos e vestuário, mas a idéia de que ela se torna masculina é um senso comum. Ultimamente, tenho notado que muitas delas, como não conseguem demonstrar feminilidade na hora dos jogos, acabam fazendo isso antes, através de maquiagem, por exemplo, exatamente para mostrar que ainda são mulheres”, destaca Ana Maria.
A escassez de representantes do sexo feminino em cargos de direção nas entidades reguladoras dos esportes e em secretarias de estado relacionadas ao tema acaba por se constituir, de acordo com Ana Maria, em um entrave à prática esportiva feminina. Segundo a professora, ao ocupar um lugar de chefia nesses órgãos, a mulher poderia ajudar a derrubar preconceitos não só junto aos atletas, mas, principalmente, junto à sociedade: “em muitos casos, o problema não é somente a falta de interesse das mulheres em participar de competições, mas sim a família que a impede de treinar por medo de mudanças no corpo da esportista”, explica.
Respeitando diferenças
O treinamento com homens, visando o aperfeiçoamento técnico da mulher, é rotineiro em várias modalidades esportivas, algumas delas, como a esgrima, chegam a realizar, extraoficialmente, competições mistas, onde homens e mulheres jogam entre si. É notório, no entanto, que os índices alcançados pelas mulheres estão aquém dos recordes masculinos.
Na opinião de Margarida Menezes, as diferenças entre os sexos existem e devem ser respeitadas: “sou contra homem jogar com mulher e também não me agrada a idéia de mulheres praticarem esportes com gol. Há sempre mais perigo de ferir uma mulher do que um homem nesse tipo de jogo. O impacto da bola no tórax pode trazer conseqüências físicas para a mulher, que não existem para o homem”, alerta a professora de 82 anos.
Ana Maria, no entanto, argumenta que o fundamental é não exigir do sexo feminino o mesmo desempenho apresentado pelo masculino. “Os índices são diferentes. O homem parece já ter atingido seu limite quanto a índices; não tem muito para baixar. Já as mulheres ainda estão buscando, estão baixando a cada ano. Mas isso acontece porque eles chegaram nos esportes mais cedo, a gente chegou mais tarde. Homens e mulheres são diferentes. A questão é compreender que essa diferença não é sinônimo de inferioridade. A mulher tem que conseguir o máximo que a sua categoria pode alcançar, assim como os homens”.