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Uma descoberta vem empolgando os pesquisadores da área da Paleontologia. Há dois anos, foi descoberto, em uma fazenda no interior de Minas Gerais, o fóssil do crocodilo que seria o avô das espécies que dominaram o interior do Brasil: o Campinasuchus dinizi. Diferentemente dos crocodilos atuais, que vivem em locais de clima quente e úmido e no ambiente aquático, ele era essencialmente terrestre e adaptado a sobreviver longe dos lagos e grandes rios e à alta temperatura.
A estratégia de sobrevivência da espécie foi crucial pra a conservação dos fósseis. “Como há vários espécimes concentrados na área, em bom estado de conservação, os esqueletos ainda com os ossos articulados, tudo leva a crer que esses animais tenham se enterrado na lama ainda vivos, mas não tenham conseguido suportar um período de seca muito prolongado", explica Ismar de Souza Carvalho, professor da UFRJ, em entrevista a FAPERJ.
O trabalho em conjunto da UFRJ com a Universidade Federal do Triangulo Mineiro (UFTM) vai gerar um DVD que mostrará em 3D a reconstituição dos fósseis para ser apresentado nas redes públicas de ensino fundamental. “A iniciativa resultou da necessidade de buscarmos novas linguagens para a difusão da informação em geociências”, comentou o professor Ismar em entrevista ao Olhar Virtual. Confira a íntegra.
Olhar Virtual: De onde surgiu a iniciativa de fazer o DVD?
Prof. Ismar: A iniciativa em se realizar a reconstituição virtual 3D dos fósseis, com a produção de um DVD educativo, resultou da necessidade de buscarmos novas linguagens para a difusão da informação em geociências. Geralmente os dados científicos são pouco atrativos, demandando uma grande quantidade de informações visuais para o entendimento de conteúdos complexos e de difícil compreensão. Consideramos que a produção de um vídeo em 3D possibilitaria uma boa divulgação dos trabalhos que realizamos em Paleontologia e que seria uma maneira de associarmos uma ferramenta tecnológica, de grande interesse público, com uma ação educativa. A parceria entre nossa universidade e a Universidade Federal do Triângulo Mineiro, com o apoio dado pelas agências de fomento FAPERJ, FAPEMIG e CNPq, possibilitou tanto a descoberta do fóssil de Campinasuchus quanto a possibilidade de reconstituí-lo em seu cenário de vida através de uma animação 3D. Atualmente estamos trabalhando também com o apoio de empresas privadas, tais como a Henkel do Brasil, e produtoras de vídeo, para termos uma distribuição mais ampla deste trabalho.
Olhar Virtual: O senhor pode falar um pouco sobre a descoberta do fóssil e a importância dele?
Prof. Ismar: A descoberta de Campinasuchus, um crocodilo terrestre, foi realizada pelo Sr. Amarildo Queiroz, proprietário da fazenda Três Antas, município de Campina Verde (Minas Gerais, Triângulo Mineiro), o qual percebeu que os ossos encontrados na região de sua propriedade não se assemelhavam aos de animais recém-mortos. Através de um contato inicial com a UFTM tivemos então a possibilidade de realizar escavações sistemáticas na região e recuperar alguns dos mais impressionantes registros da vida no território brasileiro durante o período geológico designado como Cretáceo. Trata-se de uma “assembleia de morte”, na qual muitos crocodilos foram preservados com o esqueleto articulado e praticamente completo. É possivelmente o mais importante jazigo fossilífero encontrado no Brasil nos últimos 10 anos, e que representa uma verdadeira janela para o passado da vida e dos ecossistemas terrestres há 90 milhões.
Olhar Virtual: Existem outras descobertas na área? E no Brasil?
Prof. Ismar: Em nosso país os estudos paleontológicos avançaram bastante nos últimos anos. Várias descobertas têm sido realizadas em todo o território nacional, possibilitando o entendimento das transformações ambientais e da diversidade da vida no transcorrer do tempo geológico. Nossa universidade tem destaque nesta área de conhecimento. Através das ações que realizamos tanto a nível de graduação, pós-graduação e extensão, temos qualificado inúmeros novos geocientistas que se dedicam ao estudo dos fósseis. Trata-se de uma área relevante, pois além dos fósseis de vertebrados, possuímos modernos laboratórios e importantes especialistas em diferentes setores do conhecimento paleontológico, tais como a micropaleontologia, palinologia, bioestratigrafia e tafonomia, todas de grande aplicação para a indústria petrolífera.
Olhar Virtual: O Brasil tem um papel importante na descoberta e estudo de fósseis?
Prof. Ismar: Sem dúvida alguma. A contribuição brasileira para a descoberta e estudo dos fósseis é a demonstração de que em nossas áreas sedimentares ocorrem uma fauna e uma flora peculiares e distinta da encontrada no hemisfério norte. A possibilidade de desenvolvermos uma cultura acerca de nossos fósseis reforça a concepção de uma territorialidade da vida no decurso do tempo e uma identidade para a Paleontologia brasileira. Pode não existir pecado abaixo da linha do equador, mas com certeza existem ainda muitos fósseis a serem descobertos, e que revolucionarão o conhecimento do passado da vida em nosso planeta.
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