O grande alarde na imprensa, atualmente, gira em torno da polêmica “briga” entre a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e o Grupo Folha, responsável pelo jornal Folha de São Paulo, que publicou recentemente uma matéria desagradável aos olhos dos fiéis da instituição.
Segundo a IURD, a matéria denegria a imagem da igreja gratuitamente, já que as acusações feitas não eram embasadas por provas consistentes. Houve desde processos judiciais por parte dos fiéis contra a empresa de comunicação até cancelamento coletivo de assinaturas do provedor de internet UOL, vinculado ao Grupo Folha, como forma de protesto à matéria veiculada.
Esse acontecimento repercutiu rapidamente no ambiente midiático e ganhou força depois que a Rede Globo também “alfinetou” Edir Macedo, fundador e bispo da IURD, e a comunidade evangélica em geral em sua novela do horário nobre. Para falar sobre esse imbróglio e explicar se o papel da imprensa está sendo cumprido eticamente, o Olhar Virtual entrevistou Eduardo Refkalefsky, professor da Escola de Comunicação da UFRJ e estudioso do caso.
De acordo com o especialista, o que a mídia considerou como o real problema de toda a discussão foi o fato da grande semelhança existente entre o texto das ações movidas contra o Grupo Folha. Para o professor, seria uma imensa coincidência que um advogado no interior do Acre, outro do interior de São Paulo e mais um no interior do Rio de Janeiro utilizassem as mesmas justificativas contra um mesmo réu. Portanto, o texto dos processos teria sido a grande motivação para que o Grupo Folha e outros veículos de comunicação afirmassem que toda a mobilização está sendo orquestrada pela IURD.
Entretanto, Refkalefsky lembra que os processos movidos podem acabar prejudicando a própria Igreja Universal. Segundo o entrevistado, existe uma “espécie de lei tácita entre juízes”, em que se tende a alimentar uma antipatia natural a inúmeros processos contra uma mesma causa, devido ao acúmulo desses prejudicarem os já congestionados trâmites da justiça.
A matéria da Folha de São Paulo tratava de situações delicadas para a IURD, como o escândalo de corrupção envolvendo o bispo Rodrigues, a questão dos sanguessugas e a bancada evangélica, cada vez com maior representatividade no governo. Segundo o entrevistado, esses assuntos são extremamente irritantes para os membros da Universal, apesar de conhecidos e comprovados.
O especialista crê que há uma forte possibilidade de a motivação inicial para a abertura de processos ter sido, de fato, espontânea por parte dos fiéis, porém talvez a ajuda e orientação que, certamente, a IURD deu aos membros da igreja, pode ter influenciado um pouco o restante dos fiéis: “A indignação, no entanto, é um direito de cada cidadão”, afirmou Refkalefsky. Para ele, é totalmente justificável processar veículos de comunicação que insultem um grupo ou algum nicho específico da população como, por exemplo, a ação movida pela IURD contra o jornal Extra, que se referiu à Igreja Universal como seita. No entanto, o professor ainda considera muito subjetivo julgar se o tom da matéria foi pejorativo ou não.
Quanto ao preconceito contra a comunidade evangélica, muitas vezes corroborado pela mídia, o professor garante que a tendência das “brigas” judiciais protagonizadas pela IURD é agravar a situação. A Rede Record de televisão já se manifestou contra a Rede Globo, quando o Jornal da Record colocou em, 16 de março, uma matéria sobre o que foi representado na novela das oito. De acordo com Refkalefsky, as cenas de evangélicos arruaceiros que se organizam para linchar supostos pecadores não condizem com a realidade dos fiéis e de suas práticas cotidianas.
Para o professor, é arriscado dizer que a imprensa estaria influenciando a visão que o restante da população possui em relação aos fiéis da IURD. Para ele, o exercício da liberdade de expressão é seguido de responsabilidades. O especialista afirma que, ao publicar algo desse tipo, é previsível que o veículo acabe por atuar no julgamento das pessoas, porém não chega a ser propriamente uma manipulação: “Na verdade há pontos negativos dos dois lados, porém saber como os evangélicos lidam com o estereótipo é algo extremamente complexo”, observou Eduardo Refkalefsky.