A sacola plástica – grande amiga da dona-de-casa e de milhares de brasileiros desde os anos 1970 – tem sido muito questionada ultimamente. Com uma produção crescente, seu destino é o que preocupa.
Depositadas em lixões e aterros, estes objetos cômodos utilizados para transportar todo tipo de mercadorias podem demorar até 400 anos para se decompor. Por um lado, esta demora representa uma vantagem – já que a decomposição do plástico, que possui derivado de petróleo como matéria-prima, libera gases que contribuem para o efeito estufa –; por outro lado, seu acúmulo provoca males diversos.
Para falar sobre a utilidade do plástico e o ônus provocado ao meio ambiente, o Olhar Virtual convidou Haroldo Mattos de Lemos, professor de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica (Poli) da UFRJ.
Olhar Virtual: O chamado plástico oxibiodegradável surgiu como alternativa para acabar com a tão longa permanência do plástico no ambiente, porque, com a adição de um sal metálico, ele tem seu processo de decomposição acelerado para o período de um ano, aproximadamente. Este novo produto resolve o problema?
Não, o “plástico oxibiodegradável” provoca apenas um efeito visual, porque a poluição permanece, embora não seja vista. A este plástico, adiciona-se uma substância que provoca a decomposição em pouco tempo. Porém, ele não se degrada inteiramente, não desaparece; apenas se esfarela, deixa de ser visível. Mas seus efeitos continuam.
Olhar Virtual: Qual é a solução, então? Deixar de usar produtos de plástico?
Não. O caminho da reciclagem é o ideal a ser seguido, porque permite a economia de petróleo e evita a poluição do meio ambiente pela liberação de gases, assim como a contaminação do solo e água durante séculos. Além do mais, se for reciclado, o plástico apresenta grandes vantagens quando comparado – através da avaliação do “ciclo de vida” do produto – a outros materiais que desempenham a mesma função.
Olhar Virtual: O senhor pode exemplificar?
Por exemplo, o que é melhor para o meio ambiente: café servido em xícaras de louça ou em copinhos de plástico? Suponhamos que uma xícara de louça possa ser usada para servir mil doses de café. Se usarmos copinhos de plástico serão mil copinhos. Se jogarmos os mil copinhos de plástico fora, o ponto vai a favor da xícara de louça, mas se o plástico for para reciclagem e a água for escassa naquele local, o copinho de plástico pode provocar um impacto ambiental menor, porque não gastará água e detergente como a xícara de louça que deverá ser lavada mil vezes.
Olhar Virtual: Voltando às famosas sacolinhas, o senhor defende sua reutilização como uma maneira de valorização e controle do produto, não é verdade? Mas, a má qualidade não permite que elas sejam reutilizadas...
Para criar a cultura de não jogá-las fora, os fabricantes deveriam investir em sua qualidade e repassar os ajustes ao consumidor final. Na Europa, os supermercados cobram pelas sacolas plásticas, de melhor qualidade. Por este motivo, o consumidor as guarda para quando voltar ao supermercado. Se não forem para a reciclagem, que sejam reutilizadas! Os aterros são admitidos como destino das sacolas plásticas só quando for para acomodar lixo, porque se não utilizar aquela, você vai ter que comprar outra, própria para este fim.