Dirigir, caminhar e viajar ouvindo um clássico da literatura deixou de ser impossível. O livro falado é novidade no mercado editorial brasileiro após grande sucesso vivido nos Estados Unidos. No ano passado, cerca de 10% dos americanos pagaram para ouvir um livro e isso foi um estímulo às editoras nacionais. No Brasil, o audiolivro ainda é predominantsemente visto como auxílio para deficientes visuais, contudo já começa a ser direcionado a outro tipo de público: pessoas com indisponibilidade de tempo para leitura ou que queiram conhecer outra forma de acesso às obras literárias.
O primeiro site brasileiro a comercializar o produto em língua portuguesa – o audiolivro.com – surgiu em Curitiba há cerca de cinco anos. Diferentemente do mercado americano, que dispõe de 18 mil obras à venda em sites como o audible.com e o amazon.com, os audiolivros lançados no Brasil não passam de 140, de acordo com registros da Biblioteca Nacional. Podemos ressaltar também a pequena, porém marcante, experiência vivida no país com a popularização da Bíblia falada, narrada pela conhecida voz de Cid Moreira, que fez grande sucesso, principalmente entre um público mais popular, podendo ser adquirida em bancas de jornal.
O audiolivro é uma tendência muito nova no país e, mesmo que se torne alternativa à literatura, não é considerada concorrente aos livros impressos, como esclarece o professor Paulo César Castro, da Escola de Comunicação Social (ECO/UFRJ): “não acho que haja concorrência pois são produtos voltados para públicos distintos. São duas experiências diferentes de contato com uma obra, que definem o tipo de público que pode ser atingido”.
Há um interesse específico pelos audiolivros no mercado nacional: alguns professores começam a utilizá-lo para incrementar as aulas e estimular a leitura e o conhecimento desde cedo. Sobre as vantagens do livro falado no âmbito educacional, Castro afirma que o uso de novas ferramentas pedagógicas é sempre válido para tornar as aulas mais dinâmicas. “É o que acontece hoje, por exemplo, com o data-show para apresentações em PowerPoint e mesmo com a Internet. Indo além do audiolivro, um outro recurso didático muito interessante é o podcast, arquivo de áudio digital que pode ser distribuído pela internet e que, usado pelos professores, pode dar uma dimensão ainda maior ao espaço físico da sala de aula”.
Paulo César Castro evidencia a importância ainda maior do uso de audiolivros no ensino a deficientes visuais que, contudo, não é incentivado por programas governamentais: “No caso da educação dos deficientes visuais, eu diria que o audiolivro deveria receber uma atenção muito maior dos governos, com incentivos à produção. Esses livros em forma de áudio poderiam ser uma importante ferramenta de inclusão social, dando aos cegos a possibilidade de acesso aos livros e, assim, de inserir-se de forma igual na sociedade”.
O professor ressalta também os benefícios econômicos dos livros falados: “Para se ter uma idéia do potencial do audiolivro, vejamos os números deste mercado nos Estados Unidos, onde a produção acontece desde os anos 60. Lá, eles representaram 8% das vendas de todos os livros em 2004, com 400 mil clientes e um volume de vendas de US$ 39 milhões”. Por estes dados, de acordo com Castro, é possível visualizar a dimensão do que pode representar o mercado brasileiro neste segmento, mesmo que o poder aquisitivo de nossa população seja bem menor.
Questionado acerca do possível fim dos livros impressos, Castro declara que, apesar de sempre surgir esse tipo de questão pelos apocalípticos do momento quando emerge uma nova mídia, anunciando o fim das já existentes, ele acredita nos ajustes que o livro impresso possa sofrer, levando em consideração as novas tecnologias, entre elas a Internet. “Mesmo com todos os recursos possíveis a partir do desenvolvimento do PDF ou mesmo das iniciativas para criação do e-book, é ainda o livro impresso que domina a cena da publicação de obras no mundo inteiro. Portanto, se o livro impresso vai acabar, esse fim ainda está muito longe”.
Para tornar possível um crescimento maior do audiolivro no mercado nacional, como ocorre nos EUA, Castro acredita no investimento em qualidade, o que esbarra nos custos de produção. Contudo, com a possibilidade dos arquivos digitais em formato MP3, por exemplo, ao invés de fitas cassete e mesmo CDs, que elevam o preço devido a custos com postagem, o potencial de mercado para o audiolivro é ainda maior, “principalmente se buscarmos atingir não apenas os deficientes visuais, como normalmente acontece, mas também um público formado principalmente por pessoas que não têm tempo ou muito interesse pela leitura”, conclui.