A estreia, no mês de maio, no circuito carioca do documentário Esse homem vai morrer – Um faroeste caboclo, que trata de uma lista de 14 pessoas “marcadas para morrer” por causa da luta pelo acesso à terra no estado do Pará, com a participação do padre Ricardo Rezende, professor da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, coincidiu com a volta do assunto à grande mídia. Além das discussões sobre a aprovação no Congresso do novo Código Florestal, desde o dia 25 de maio, os assassinatos do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo no Pará e, no dia seguinte, do líder ambiental Adelino Ramos em Rondônia fizeram com que o tema e suas repercussões voltassem às manchetes.
No entanto, o professor Rezende, do Núcleo de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH) da UFRJ, pondera que “sempre houve mortes no campo e a mídia nunca deu importância a isso”. Com a cobertura da imprensa, criou-se “um constrangimento aos governos”, obrigando-os a dar respostas. Mas declara que ainda que cubra o assunto, o faz de modo superficial: “o desafio é ter respostas mais estruturais. É necessário apontar as causas, como concentração de terra e o modelo de desenvolvimento implantado. Sem a raiz do problema, as soluções se tornam paliativas”, conclui o professor.
Falta de acesso à terra associada ao trabalho escravo
Retratado e considerado o fio condutor do documentário Esse homem vai morrer, Rezende expõe no filme que, na região Norte, o problema não se restringe à questão do acesso à terra, mas, sim, à exploração sexual de crianças e adolescentes e ao tráfico humano: “são esses os eixos que falam de um Estado ausente e cúmplice”. Com isso, coordena o Grupo de Pesquisa do Trabalho Escravo Contemporâneo, associando a mão de obra assalariada à má distribuição de terra no país: “onde tem gente sem terra, desempregada, sem alternativas de trabalho, tem uma mão de obra disponível potencialmente ao aliciamento e à escravidão.”
O documentário trata de apenas 14 ameaçados de morte na cidade de Rio Maria, ao sul do Pará, mas, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2010, havia uma lista de 125 nomes espalhados por 16 estados brasileiros, com sindicalistas, trabalhadores rurais, ambientalistas, quilombolas e sem-terra. Segundo a Pastoral, dos 1.580 assassinatos ocorridos entre 1985 e 2010, apenas 91 chegaram a julgamento. Foram condenados 21 mandantes e 73 executores, sendo que apenas o mandante da morte da missionária Dorothy Stang está preso. Apenas em 2010 ocorreram 34 assassinatos, mais da metade no Pará, estado mais violento.
Esse homem vai morrer – Um faroeste caboclo, dirigido por Emílio Gallo e produzido pela atriz Dira Paes, está em cartaz de terça a domingo, às 18h, no Cine Glória, no Memorial Getúlio Vargas, na Praça Luiz de Camões, s/n, Glória.