Verões mais quentes e invernos mais rigorosos, maior número de enchentes, secas e incêndios florestais, aumento da intensidade de tempestades e furacões, derretimento de geleiras e capotas polares. Essas são algumas das conseqüências das mudanças climáticas observadas em várias partes do planeta que se tornaram assuntos em voga na mídia.
De acordo com Isimar dos Santos, professor do departamento de Meteorologia do Instituto de Geociências (IGEO) da UFRJ, a principal causa das flutuações climáticas é o efeito estufa que, apesar de ser um fenômeno natural essencial para a vida no planeta, tem se intensificado a partir da atividade industrial e o uso intensivo de veículos que queimam grande quantidade de combustíveis fósseis e colocam na atmosfera grande quantidade de dióxido de carbono e outros gases provocadores do efeito estufa.
Esses gases atuam na atmosfera de modo a manter a radiação solar recebida e, assim, conservar a Terra aquecida. É um fenômeno benéfico que, no entanto, tornou-se o grande vilão das questões ambientais a partir do momento em que a atividade humana o intensificou e ocasionou o aquecimento global. As conseqüências desse processo, ao contrário do que se pensa e é veiculado, não é necessariamente sentir mais calor. Os efeitos não são sentidos diretamente, mas sim de forma indireta, através dos processos atmosféricos e oceânicos.
– A “máquina” atmosférica utiliza a energia do sol (calor) para realizar os processos de vento, chuva, nuvens, ciclones, ondas de frio ou calor, por exemplo. No momento que acrescentamos energia para essa “máquina”, ela trabalhará mais, o que significa mais chuvas, furacões – esclarece o professor acerca das reais conseqüências do efeito estufa.
Isimar ressalta a dificuldade que existe em medir de maneira mais precisa o processo de aquecimento global já que os sistemas de observação de temperatura encontram-se em regiões urbanizadas ou em volta delas – que são mais quentes que as zonas rurais. Dessa forma, fica difícil distinguir os resultados reais do efeito estufa e, por isso, a comunidade científica costuma ser cautelosa ao divulgar dados.
O próprio Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC) sempre foi prudente: apenas na última versão foi divulgado que o aquecimento global notado é decorrente da atividade humana e, ainda assim, o IPCC não colocou o homem como único culpado pelas flutuações do clima.
De acordo com o pesquisador, a grande preocupação que surge, além da sustentabilidade do planeta, é a redução na produção de alimentos. As mudanças climáticas e os processos de desertificação, por exemplo, prejudicam as plantações e diminuem a oferta de bens alimentícios. Já se observa um aumento global do preço do alimento e essa é a causa primeira da inflação presente no Brasil, segundo Santos. O professor afirma ainda que essa questão é problema mundial e que deveria ser melhor analisada por países como os EUA que, apesar de ser o maior poluidor, não assinou o Protocolo de Kyoto – tratado internacional que determina metas de redução de emissões de gases e estimula o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.
Sobre a cobertura midiática acerca das questões ambientais, o professor afirma: “o cidadão brasileiro é muito bem informado, pelo menos no que concerne ao fato de que há um problema mundial. Considero que a mídia nacional faz um bom papel e a prova disso é que a população não está insensível ao problema.”
Indagado acerca de possíveis soluções, Isimar dos Santos afirma que não é fácil reverter a situação e medidas devem ser tomadas de forma mais ampla. Ele sugere o aumento da tecnologia de veículos e indústrias, a fim de ampliar a eficiência energética, e a substituição dos combustíveis por formas menos poluidoras. O professor propõe duas medidas para ser tomadas individualmente – evitar qualquer prática de queimada (como de lixo, por exemplo) e a escolha de governantes que apresentem compromisso com questões ambientais – mas que permitem um avanço na área já que manifestam uma tomada de consciência por parte da população.