Elisa Ferreira
Neste ano, o “Natal no Fórum” conta com uma exposição de presépios, que visa a promover a cultura popular na UFRJ e reunir a comunidade universitária em uma confraternização de fim de ano. A exposição acontece no Átrio do FCC-UFRJ, localizado no 1º andar do Palácio Universitário da Praia Vermelha, até o dia 17 de dezembro, das 9h às 17h.
A exposição de presépios já acontece há alguns anos, porém esta foi a primeira vez em que as peças foram produzidas por alunos da UFRJ, com o auxílio de mestres da cultura popular. A idealizadora do projeto, Waldelice Souza, acredita que o presépio é o produto final do aprendizado obtido ao longo da convivência dos estudantes com o mestre popular.
A participação na “Bolsa Residência Natal no Fórum” estava disponível a todos os discentes da universidade. Para participar, era preciso enviar um portfólio, que foi analisado por banca específica. A escolha foi feita no dia 13 de setembro e, desde então, os cinco selecionados estão em contato com os artistas para a produção da peça. Além da bolsa, cada aluno recebeu uma ajuda de custo de R$2.000.
A parceria com o artista possibilitou que os alunos aprendessem não só a técnica, mas compreendessem também um pouco do universo da criação artística. Porém, segundo André Protásio, produtor cultural e um dos organizadores da iniciativa, “cada relação teve suas particularidades. Deu muito trabalho, pois ficou tudo muito apertado, com atrasos e questões diversas. Mas foi uma experiência muito feliz”.
Os trabalhos serão premiados após avaliação da comissão julgadora, no dia 15 de dezembro, a partir das 10h. A entrada é franca. Vale a pena conferir!
João Bosco Bedeschi Filho e Erivaldo Ferreira da Silva
O estudante de cenografia da EBA trabalhou junto de Erivaldo com o estilo gravura. Ao invés de utilizar uma manjedoura, João preferiu colocar uma TV com imagens sonorizadas de parto. Já o trabalho de estilo gravura apresenta imagens de personagens nus, representando a Sagrada Família.
Priscila Piantanida e Roberto da Luz Gomes
Priscila Piatanida, outra selecionada, estudante de escultura, conviveu com Roberto da Luz, que é artista plástico escultor em madeira. Como ambos trabalham com vitrais, utilizaram desse material para ilustrar os três reis magos no presépio.
A estudante desenvolve, há tempos, trabalho com materiais vivos, a “escultura viva”, por isso escolheu usar terra preta ao redor do presépio, com brotos de trigo. Além disso, na manjedoura, ao invés da imagem de Jesus, preferiu uma luz. Já José e Maria foram esculpidos em madeira.
Vinícius Lugon Dias Bastos e Waldilene Sena Martins (Lena)
O estudante de cenografia trabalhou com Lena Martins, da Abayomi. A artista trabalha com bonecas de tecido, usando uma técnica criada por ela em que não há costura, apenas tecido. Entretanto, no presépio, eles utilizaram outra técnica, com pedaços de galhos de árvore, a fim de dar movimento, reproduzindo as articulações.
Sobre a experiência, Lena Martins declarou: “Tendo como ponto de partida o respeito pela possibilidade de troca, e o objeto de expressão dessa troca ser um presépio, foi a questão de administrar o curto tempo proposto no projeto, os recursos viabilizadores e, principalmente, o respeito mútuo estabelecido entre mim e Vinicius. Vivemos um momento de muitas informações e desejos de saber e conhecer, é difícil administrar esse turbilhão. Está sendo um prazer participar do projeto”.
Rodrigo Gonçalves Coelho e José Andrade Santos (Zé Andrade)
O estudante de cenografia Rodrigo Gonçalves Coelho passou os últimos meses trabalhando com bonecos de barro, a partir de figuras proeminentes da intelectualidade brasileira, com Zé Andrade.
Foi o único dos cinco que utilizou a base dos presépios: o burro e o boi, sem apresentar a Sagrada Família. Além disso, em bonecos separados de três em três em uma estrutura que roda, ele apresenta algumas figuras da intelectualidade brasileira, como Carlos Drummond de Andrade e Ferreira Gullar.
Para Rodrigo, “a experiência de criar um presépio foi maravilhosa e inovadora. Pude aprender bastante coisa principalmente sobre mim. O Resultado foi gratificante! A convivência com o artista foi uma das dificuldades, pois não dividíamos as mesmas opiniões e perspectivas sobre o trabalho e sobre a vida, somos de gerações e culturas diferentes”.
Além disso, Rodrigo fala de algumas dificuldades do projeto, principalmente por ser o primeiro ano: “A maior dificuldade foi não ter recebido as bolsas que serviriam como auxilio para os nossos gastos. Até hoje não recebemos nada. Além disso, o Fórum não nos ajudou tanto quanto deveria e esteve ausente em muitos momentos”.
Cristiane da Silva e Deneir de Souza Martins
A estudante de indumentária conviveu com Deneir, que trabalha com sucata, é um brincante, que faz brinquedos e engenhocas.
A estudante preparou um caleidoscópio com a Sagrada Família representada sobre ele, com inspiração futurista. A etapa mais difícil, para Cristiane, foi a reta final, definida como “desesperadora”, em suas palavras. Entretanto, para a estudante, que ficou em primeiro lugar no edital, ver o trabalho exposto é gratificante: “ver o trabalho nascendo é reconfortante, é como se fosse um filho”.
Já Deneir acredita que houve uma química entre seu trabalho e o pensamento de Cristiane. “Ela é sensível, criativa e inteligente. Quando visitamos a sala onde está a exposição, pedi que ela observasse o desenho do piso do centro da sala, que é uma estrela ou Rosa-dos-Ventos, e seria interessante que pudesse aproveitar como o tema do trabalho e, se possível, interativo. A Cristiane pensou no trabalho como um caleidoscópio (interativo e estrelado) eu achei ótima a ideia. Iniciamos a procura de materiais: sucatas de cadeira de rodas, espelhos, compensados, cola etc. Trabalhamos através de encontros, telefonemas e e-mails.”
Deneir elogiou a proposta, que, para ela, é uma forma de dar oportunidade a jovens artistas. E sobre o resultado, ela declarou: “O local da exposição é ótimo e os presépios bastante criativos e com estilos próprios, os trabalhos não devem nada em estilo e técnica a grandes profissionais. Os estudantes da UFRJ estão de parabéns!” E já avisou antecipadamente que aceitaria um convite para a participação da Residência do ano que vem.