“A democratização dos meios de comunicação” foi o tema da mesa-redonda promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) Mário Prata, da UFRJ, no dia 14 de março. O evento aconteceu no auditório do Centro de Filosofia e Ciencias Humanas (CFCH), no Campus da Praia Vermelha, sob a mediação do estudante e membro do DCE, Gustavo Moura. Os convidados debateram a questão e apontaram propostas para transformar as atuais mídias brasileiras.
O debate foi iniciado pela professora e diretora da Escola de Comunicação (ECO) Ivana Bentes, que focou sua argumentação na crise da indústria de comunicação. Para ela, as mídias alternativas — internet, rádios comunitárias e livres e outros meios não-vinculados a grandes corporações — ganham cada vez mais força e desestabilizam as mídias corporativas. Segundo Ivana, o acesso aos veículos de comunicação livres e gratuitos, como a internet, provocaram o declínio das vendas de jornais e ingressos de cinema.
Outro aspecto que revelou a queda de influência das mídias tradicionais na opinião pública foi o resultado das últimas eleições, em que candidatos estampados como possíveis vencedores nas capas de grandes publicações não foram eleitos.
A diretora defende as tendências da democracia contemporânea de disseminação da informação e vai contra políticas sindicalistas que criam obstáculos a isso. “Como exigir que somente profissionais diplomados produzam informação?”, indagou Ivana, ao questionar a primazia do diploma de comunicador e assinalou que há uma enorme gama de possibilidades de difusão do capitalismo cognitivo, entre elas, os blogs e o youtube.
Em seguida, João Brant, representante da Intervozes, criticou a falta de pluralidade e a formação de um discurso único, devido à concentração dos meios de comunicação, que segundo ele, está diretamente relacionado ao poder político no Brasil. O palestrante revelou que no país, 55% da audiência está nas mãos de apenas uma emissora. “O mercado tem que ser desconcentrado”, afirmou.
Brant explicou que no novo modelo cada cidadão teria direito não só de receber informação, como também de veiculá-la. No entanto, as pessoas não exercem plenamente esse direito. Ele acredita que essa transformação deve partir do interesse do próprio cidadão e não deve ser tratada diretamente pelo estado, que deveria assegurar o direito à informação. O ativista lança mão do exemplo da emissora inglesa, BBC, que não depende de publicidade comercial e não é governamental, ou seja, um modelo típico de imprensa pública.
O jornalista do Portal Vermelho, Altamiro Borges, falou sobre o poder da imprensa e sua influência no comportamento das pessoas. “Quantos de nós não absorvemos a idéia vendida por algumas emissoras de que a Guerra do Iraque se deu porque Sadam tinha armas nucleares, bacteriológicas?”, questionou indignado. Ele retomou o que foi dito por João Brant, sobre a monopolização da mídia global, destacando que apenas 20 conglomerados concentram a difusão de notícias. No Brasil, são nove corporações que ditam as regras. Borges criticou a revista Veja pelo seu perfil preconceituoso e racista e relacionou essas características ao fato de 30% das ações do veículo pertencer à Nasper — grupo empresarial que durante anos editou revistas e livros e foi esteio do regime do apartheid na África do Sul.
Para Altamiro, o governo Lula começou bem com o discurso de TV digital, no entanto, na gestão de Hélio Costa falou-se apenas do modelo japonês, que coincidentemente interessa às grandes emissoras, como a Globo. O jornalista acredita que o presidente iludiu-se com a mídia ao pensar que poderia seduzí-la. “Essa mídia não dá para democratizar. A solução é criar uma nova”, concluiu.
O jornalista colaborador da revista Carta Capital, Raimundo Pereira encerrou o debate destacando a nova edição da coleção “Retrato do Brasil”, escrita por ele e outros profissionais. O autor a considera importante no auxílio da educação e fonte de impressões desveladoras sobre os acontecimentos globais dos últimos tempos, entre eles, a passagem da ditadura militar para a ditadura do capitalismo financeiro.
Ele também destacou a importância das rádios comunitárias e tomou como exemplo o papel fundamental desse veículo na denúncia do golpe que tentou derrubar Hugo Chávez, na Venezuela. No entanto, as rádios são muito limitadas no Brasil — a média é de uma comunitária para trinta comerciais. Sobre esse aspecto o jornalista acrescentou: “a imprensa popular deve desmascarar o que está escondido”, lembrando que, a princípio, sua função era esta.
Ao final da palestra, foi aberto um espaço de discussão, em que foram sugeridos novos debates sobre mídias alternativas e em defesa da democratização dos meios de comunicação.