Há séculos, o Brasil enfrenta o problema da má distribuição de renda e de alimentos, explicada por alguns fatores históricos, como a centralização de terra nas mãos de poucos proprietários e a política de agro-exportação. Esse quadro estimula algumas ações que buscam alternativas para combater a fome e, ao mesmo tempo, estimular a defesa do meio ambiente. Para conhecer uma delas e saber quais os limites da ação de defesa do meio ambiente e combate à fome diante da precária distribuição da renda e dos alimentos no Brasil, o Olhar Virtual foi até o Hangar da Ilha do Fundão, onde aconteceu a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da UFRJ, conversar com a geógrafa e professora Maria Aparecida Inez Moreira, assistente de Educação Ambiental da Prefeitura Universitária e coordenadora do projeto “Horta em PET”.
“O que falta no Brasil é uma política de defesa do meio ambiente, que o considere como um todo, centros urbanos e áreas rurais, onde as ações sociais e ambientais devem ser integradas. Esse é o grande limititador da ação de proteção do meio ambiente e de combate à fome. A solução é usar a educação ambiental direto nas comunidades transformando a população em parceira do poder público e conscientizando-a, pois a falta de informação é um dos maiores entraves da erradicação da fome e das melhorias ambientais.
Considerando que a fome e a subnutrição são problemas cruciais a serem enfrentados pelas comunidades das periferias com Índice de Desenvolvimento Humano abaixo da linha de pobreza, sabendo que esta fome é produto de uma política de má distribuição de alimentos, que tem origem histórica, já que nossa política é de agroexportação, pretende-se com o projeto horta suspensa em garrafas pet, criar uma alternativa que amenize a fome e que, ao mesmo tempo, seja capaz de promover a inclusão social e a sustentabilidade de comunidades de baixa renda.
A fome deve ser resolvida com plantio de alimentos. Por isso, deve-se estimular as comunidades a plantar o seu próprio alimento e gerar sustentabilidade. Criar consciência social com o objetivo de transformar vidas e erradicar a pobreza e reduzir o acúmulo de lixo nos cursos fluviais, para diminuir as enchentes e evitar a proliferação de mosquitos, baratas, ratos, gerando qualidade de vida para a população excluída, são os objetivos do projeto “Horta em PET” que eu desenvolvo em diversas comunidades da Baixada Fluminense e do entorno da Baía de Guanabara. Esse projeto busca a emancipação socioeconômica das famílias que se encontram abaixo da linha de pobreza, nas periferias dos grandes centros urbanos.
O projeto consiste na possibilidade de cultivo em regiões de esgoto in natura e solos contaminados, pois a produção de alimentos é feita em garrafas PET (garrafas plásticas), permitindo a geração de hortas suspensas em mesas ou como samambaias. Ultimamente, eu e minha equipe estamos usando tubos de PVC. Nessas hortas plantamos, principalmente, ervas medicinais e temperos. Isso faz com que a pessoa que a utiliza tenha economia de gastos, pois evita comprar esses produtos em sacolões. Ao mesmo tempo, ela tem o resgate de um contato com a agricultura, mesmo estando em um ambiente degradado.
Um exemplo de sucesso aconteceu na comunidade 29 de março, localizada em Campo Grande, Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Ao realizarmos um diagnóstico da região, constatamos que, além de ser uma área de encosta e de esgoto in natura, a maioria desses moradores não tinha ensino fundamental completo e 98 % eram imigrantes, vindos de várias regiões do Brasil. Desenvolvemos a partir dessas percepções um projeto de conscientização ambiental, bastante necessária, pois, por ser uma comunidade de imigrantes, em sua maioria oriundos de regiões agrícolas, havia um preconceito com a atividade do plantio, já que essas pessoas vêm buscar nos grandes centros a indústria e o comércio. Hoje, a comunidade permanece com seu quadro precário, sem saneamento básico, mas a horta em PET atingiu seu objetivo e hoje gera alimentos e renda, além de evitar a poluição, provando que é possível uma ação de defesa do meio ambiente e combate à fome mesmo com a ineficaz distribuição da renda e dos alimentos no Brasil.”