O movimento sindical luta por melhores condições para a classe trabalhadora, mas não tem na grande mídia, em geral, um aliado. Os técnicos-administrativos da UFRJ, militantes do Sintufrj, encontram-se em greve desde o dia 30 de maio, e pouquíssimo se viu na grande imprensa sobre o assunto. Os veículos das grandes empresas de comunicação não ignoram as questões políticas de nosso país, mas suas discussões são pautadas por interesses específicos e pelo grau de afinidade com o governo.
Os grevistas da UFRJ buscam evitar que entre em vigor o PLP 01, que congelaria os salários até 2016; lutam contra a privatização dos Hospitais Universitários (HUs); contra a lei anti-greve e por diversas outras questões, que procuram combater o desmonte do serviço público pelo governo federal.
Um ano antes da deflagração do estado de greve, o sindicato apresentou propostas ao governo federal e apenas em maio, quando as tentativas de negociação se esgotaram, os trabalhadores optaram pela paralisação. A grande mídia, entretanto, jamais destacou esse esforço de entendimento que antecedeu a mobilização.
Para compreender a abordagem precária da mídia quando o assunto são as greves e os problemas enfrentados pelos trabalhadores em Educação, o Olhar Virtual conversou com Marcílio Lourenço de Araújo, um dos coordenadores gerais do Sintufrj.
Segundo Marcílio, a cobertura jornalística tem sempre um lado, que, em quase 100% dos casos, não é o lado do grevista. A mídia evita falar em determinados assuntos, pois eles simbolizam as falhas do governo, mostram que ele não vem cumprindo sua função, que não vem ouvindo as reivindicações das classes trabalhadoras. A imprensa apenas fala sobre a greve quando o movimento paredista já não pode mais ser escondido. “Quando os movimentos grevistas tomam proporções difíceis de serem encobertas, a mídia resolve então falar, ainda que de modo muito superficial, sobre eles”, argumenta o dirigente do sindicato.
Existe ainda outra possibilidade de destaque nos jornais: quando o movimento faz alguma ação mais radicalizada e esta ação tem uma repercussão negativa no meio social.
O Sintufrj tem organizado diversas ações de mobilização que não aparecem na mídia, como a ida ao Cristo Redentor para encontrar o presidente Lula, vigílias no Fundão, protestos na Cinelândia e em outros pontos do Rio. As assembléias que deliberam as decisões sobre a greve também não têm nenhum acompanhamento da grande imprensa. Mas, na opinião de Marcílio, “quando os sindicalistas fecham ruas ou fazem passeatas que impeçam o bom andamento do trânsito, a mídia depressa aparece para mostrar que, na verdade, os grevistas são um bando de baderneiros, causadores da desordem, que privam o cidadão comum do seu direito de ir e vir”.
Para Marcílio, essa postura unilateral da mídia contrasta com a sua função social: “a imprensa deveria divulgar as reivindicações dos grevistas e também o ponto de vista do empregador, no caso da UFRJ, o governo. Se a mídia abrisse espaço para a exposição dos dois lados, proporcionaria aos cidadãos o direito de escolher quem apoiar, de julgar o lado certo e o errado da questão”.
Marcílio critica ainda o fato de a mídia ter deixado de divulgar a preocupação do sindicato de manter em funcionamento os setores ligados à saúde, como os HUs, por exemplo. “O esforço e a luta dos movimentos grevistas não se direcionam apenas contra os governos, mas também contra essa grande mídia, que já decidiu qual lado quer defender. Ele certamente não é o nosso”, setencia.