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Há  dez anos, o mundo assistiu perplexo ao “11 de setembro”. O sequestro de quatro  aviões comerciais por membros de uma organização extremista do Oriente Médio, a  Al-Qaeda, e a colisão de três deles contra o Pentágono e as torres gêmeas do  World Trade Center (WTC) deixaram cerca de três mil mortos e colocaram os  Estados Unidos, maior potência mundial contemporânea, em uma posição de  fragilidade até então inimaginável. Em resposta ao acontecido, o presidente  vigente, George W. Bush, declarou guerra ao terrorismo e iniciou a caça a Osama  Bin Laden, principal articulador do atentado. 
Uma  década depois, o que mudou? O que aconteceu na época e acontece agora? Como  vivem os americanos hoje? Os outros países também temem atentados terroristas?  Para o professor Arthur Bernardes do Amaral, professor universitário e  pesquisador do Grupo de Acompanhamento e Análise do Terrorismo Internacional do  Laboratório de Estudos do Tempo Presente da UFRJ (Tempo), o “11 de setembro”  foi um grande marco no governo Bush, que não soube lidar com a nova ameaça. “Bush  intensificou o ‘unilateralismo’ estadunidense, reforçou a ideia de que os EUA  são o centro do sistema e modificou os panoramas da política externa”, disse o  especialista.
Segundo  o professor, “o então presidente americano colocou o mundo contra a parede. Ao  declarar uma guerra ao terrorismo de duração indefinida, foi feita uma grande  pressão sobre as demais nações para que todas tomassem posições. O mundo se dividiria  entre Estados Unidos e aliados contra os outros e os terroristas”. Como  consequência das políticas de “unilateralismo” latente exercidas pelo governo Bush,  outros países perceberam que tais medidas eram mais prejudiciais do que  benéficas para o mundo. “O ‘multilateralismo’ passou a ser visto como forma de  maior segurança para o sistema global. A ideia de que os objetivos e temores  dos EUA deveriam ser incorporados por todos os Estados já não era mais tão bem  aceita”, disse Amaral. O pesquisador afirmou ainda que, nesse contexto, houve  grande perda da popularidade estadunidense pelo mundo, bem como insatisfação  com a atuação de Bush. “Foi nessa fase que surgiram ideais de  ‘antiamericanismo’- fortemente presentes na América do Sul -, que disseminam a  aversão aos EUA. Além disso, o presidente George W. Bush, que havia iniciado  seu mandato com o maior apoio popular da história americana, acabou visto como  um dos piores governantes que o país já teve.”
Em  relação ao que os atentados acarretaram diretamente para outros países, Arthur  Bernardes do Amaral destacou que, mesmo depois do choque de ver um país tão  poderoso em situação vulnerável, “poucas nações passaram a tratar o terrorismo  como maior preocupação. Na época dos ataques, foram os Estados Unidos que forçaram  esse medo para todo o mundo. No entanto, o que gerou, de fato, o episódio do  ‘11 de setembro’ foi a instalação de bases militares estadunidenses na Arábia  Saudita, interferindo na política interna e nos costumes do país. Sendo assim,  o caso dizia respeito somente à relação dos EUA com o Oriente Médio”. Contudo,  Amaral ressaltou que episódios como o atentado ao metrô de Madri, na Espanha,  em 2004, “estenderam a preocupação com o terrorismo para a Europa. Houve  mudanças nas políticas externas e de proteção desses países, mas não na mesma  dimensão de como ocorreu nos EUA, justamente devido ao fato de os americanos  serem os principais alvos e não os europeus”. Para o professor, o caso de Madri  pode também estar ligado à ideia de visibilidade buscada pelos grupos  terroristas, em relação à qual a mídia tem papel fundamental. “Essas  organizações extremistas querem aparecer. Por isso planejam as ações em duas  partes: uma para atrair a atenção e outra para mostrar a ação de fato. Como  exemplo, podemos citar os dois aviões que atingiram as torres gêmeas: um  colidiu primeiro para atrair a mídia, enquanto o outro bateu contra a segunda  torre sob os olhos do mundo inteiro”, explicou o pesquisador.
Hoje,  o que permaneceu do dia 11 de setembro de 2001 para os EUA foi o medo ainda  presente entre a população, mas a preocupação com o terrorismo foi substituída  pela preocupação com problemas mais recentes que afetam diretamente a vida dos  estadunidenses, como a crise econômica de 2008. “Tenho amigos que moram nos  Estados Unidos e dizem que não é possível ter tranquilidade ao estar em locais  onde há multidões ou grande fluxo de pessoas. O medo passou a fazer parte da  rotina, o que é compreensível. Desde 1812/14 os EUA não passavam por situações  de ameaças ao território nacional, fazendo dos atentados um grande trauma.  Porém, já se passaram dez anos e outras complicações vão se mostrando mais  importantes”, afirmou o especialista. Para ele, o atual presidente Barack Obama  tem papel fundamental nessa substituição de objetivo, já que “reflete em suas  propostas e atitudes a ideia de reverter a visão negativa que o mundo passou a  ter dos EUA desde o governo Bush. O foco apresentado agora é estabelecer uma  boa relação com os outros países e pensar no reforço da imagem hegemônica americana”.
No  Brasil, ainda que os atentados ao WTC não tenham colocado o terrorismo em  posição de ameaça nacional, como apontou Arthur Bernardes do Amaral, atualmente,  o governo precisa lidar com a ameaça de maneira direta, devido aos megaeventos  que serão realizados no país e atrairão a presença e a atenção de pessoas do  mundo inteiro. “Os Estados Unidos se tornaram uma vítima justamente por serem  uma potência. O Brasil não tinha semelhante papel de destaque no cenário  mundial, portanto não era alvo em potencial. Mas agora é preciso ter um olhar  diferente sobre a questão, pois vamos sediar a “Copa do Mundo de 2014” e as “Olimpíadas de 2016”. Durante esses eventos,  além de estarem presentes atletas e turistas das mais diferentes  nacionalidades, todos os olhos estarão voltados para cá. Sendo assim, o governo  brasileiro já está tomando providências para que, mesmo com nossas limitações  de recursos, seja organizada a maior proteção possível. Um exemplo desse  processo é a transferência da sede do BOPE (Batalhão de Operações Policias  Especiais) de Laranjeiras para o Complexo da Maré, onde as tropas estarão  próximas às principais vias de acesso da cidade, como as Linhas Vermelha e  Amarela. Tudo será feito para que haja forte prevenção aliada à melhor  preparação para um caso de combate”, concluiu o professor.
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