A partir do próximo concurso Vestibular da UFRJ, os candidatos terão a chance de optar por mais um curso de Graduação: Relações Internacionais. Apesar da proposta de criação do curso ter sido aprovada somente no último dia 5 de junho, no Conselho Universitário (Consuni), a idéia surgiu ainda nos anos 90. Fomentado pelo professor Franklin Trein, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), e por oito professores do Departamento de Economia da então Faculdade de Economia e Administração (FEA) — entre eles Edson Peterlli, Vanderlei Ribas, Fernando Carlos e Manuel Alcino —, o projeto original que visava à criação da Graduação em Relações Internacionais na UFRJ nasceu juntamente com a idealização do Núcleo de Estudos Internacionais (NEI/CCJE).
Embora a primeira tentativa não tenha vingado, a idéia do curso de Relações Internacionais não foi abandonada. Em 2004, Alcino Câmara Neto, decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE/UFRJ), e Sueli de Almeida, decana do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH/UFRJ), criaram uma comissão — presidida por Antônio Celso Pereira, professor do IFCS e formada por três membros do CCJE e três do CFCH — com a finalidade de implementar a graduação, o mestrado e o doutorado em Relações Internacionais na universidade. Mais uma vez, ainda não era o momento para a intenção se tornar realidade. Enfrentando problemas de ordem institucional, a comissão não conseguiu definir quem ficaria responsável pelos cursos.
Alcino Câmara Neto relembra que a persistência foi um fator determinante para que a proposta fosse adiante. “A despeito deste fracasso original, ambos os centros passaram a dar passos na direção da criação do curso. Por um lado, o CFCH realizou concurso para professor adjunto em Relações Internacionais, para qual foi selecionado o professor Alexander, um dos responsáveis pelo projeto final aprovado pela universidade. O CCJE, por sua vez, conseguiu finalmente conceber o NEI, que poderia abrigar uma parte importante dos docentes e disciplinas do curso. Além disso, apresentamos no Consuni uma proposta inovadora que permitia, entre outras novidades, a gestão compartilhada de cursos de graduação e pós-graduação. Esta proposta foi aprovada poucos meses antes do curso também ser aprovado, e era condição necessária para isto acontecer”, conta o decano.
Após ter sido reeleito para o cargo que ocupa hoje, Alcino retomou a elaboração do projeto do curso com Marcelo Corrêa e Castro, decano do CFCH. Uma comissão que congregava professores pertencentes aos dois centros foi nomeada para elaborar e apresentar a proposta final, que seguiu para votação e aprovação em diversas instâncias, como as congregações ou conselhos deliberativos das unidades participantes (IFCS, NEPP, IE, FND e NEI), os conselhos deliberativos dos departamentos da Faculdade de Letras que participam do projeto e os dois conselhos de centro (CCJE e CFCH), além do CEG e Consuni.
Importância
Por isso, a criação do curso de Relações Internacionais na UFRJ é motivo de grande comemoração para Alcino Câmara Neto. Para o decano, esta novidade terá grande relevância tanto para a universidade como para o Rio de Janeiro. “O curso é de extraordinária importância, seja para nossa cidade — já que será o primeiro curso de graduação ministrado em universidade pública na cidade do Rio de Janeiro — seja para UFRJ, pela experiência de renovação institucional proporcionada e pela própria temática, uma das poucas já relativamente consolidadas nos campos de humanidades e ciências sociais aplicadas que não tinha curso regular de graduação em nossa universidade”, explica.
Por demandar grande interdisciplinaridade na grade curricular, a nova graduação não será lotada num único centro, mas no conjunto de unidades que participarão do curso, sendo dirigida por um colegiado de representantes destas unidades. Segundo Alcino, a grade curricular contará com disciplinas de Economia, Teoria Política, História, Geografia, Línguas, Administração, Relações Internacionais, Economia Política Internacional e Direito. “De fato, o próprio campo é, em si, interdisciplinar, congregando informações de vários saberes. Ademais, evitou-se ter um curso mais voltado apenas para um dos campos formadores, como é o caso da maioria dos cursos de graduação em Relações Internacionais no Brasil que, dependendo de sua origem institucional, é mais enviesado para o Direito, ou para a Ciência Política ou para Economia. Nosso curso guarda uma harmonia que é fruto de sua origem institucional e de um aprofundamento da temática em si, resultante da consolidação da área no Brasil”, afirma.
O decano do CCJE acredita que o curso de Relações Internacionais, que se iniciará em março de 2009, será um dos mais procurados pelos estudantes no concurso de acesso às graduações oferecidas pela UFRJ. “Acredito que a procura será espetacular, pondo o curso entre os cinco mais concorridos da universidade”, diz Alcino. Segundo o professor, o mercado de trabalho para o profissional graduado em Relações Internacionais é fortemente demandante, especialmente, por profissionais de alta qualificação.
— Há grande demanda por analistas internacionais no serviço público, que não se restringe ao serviço diplomático, e empresas estatais. O mercado de trabalho também é bastante receptivo nos organismos internacionais, ONGs, empresas nacionais exportadoras e empresas multinacionais. Nosso objetivo é formar um profissional que possa trabalhar tanto na esfera privada quanto no setor público, executando atividades relacionadas ao aconselhamento, análise e execução de tarefas na área de Relações Internacionais. Obviamente, dada a tradição da UFRJ, espera-se que haja forte sintonia com o setor público, inclusive a área de diplomacia. O curso já está estruturado para cumprir estes fins, apresentando, inclusive, um conjunto de disciplinas eletivas que permitirão exatamente o desenvolvimento de várias trajetórias de formação pelos alunos — concluiu o decano.