A ciência hoje aponta a Genética como caminho para diversas questões que implicam na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. Do grego genno, fazer nascer, a Genética, por meio de suas inovações, dá origem também a respostas decisivas na batalha contra doenças. Algumas dessas inovações são contadas no livro Genes contra Doenças - Terapia Gênica: uma nova era na genética, de autoria de Rafael Linden, professor titular da UFRJ e chefe do Laboratório de Neurogênese da Universidade.
Em entrevista ao Olhar Virtual, Rafael Linden apresenta brevemente alguns dos pontos abordados pela publicação, ressaltando a importância de utilizar, em uma obra de caráter científico, uma linguagem simples e acessível ao grande público.
Olhar Virtual: De onde partiu a idéia para o livro?
Eu fui convidado pela Editora Vieira e Lent para contribuir com um manuscrito para a coleção Ciência no Bolso, destinada à divulgação científica. Escolhi o tema Terapia Gênica, porque se trata de uma área de investigação científica de fronteira, ainda nova no Brasil, e que se encontra em franca expansão no mundo inteiro. Eu coordeno a Rede de Terapia Gênica, financiada pelo programa dos Institutos do Milênio do Ministério da Ciência e Tecnologia/CNPq e achei oportuno divulgar para o grande público o que é a terapia gênica, um pouco de sua história e do estado atual da pesquisa nesta área, aspectos éticos, bem como o potencial dessa pesquisa para o desenvolvimento de novos tratamentos para doenças ainda hoje incuráveis.
Olhar Virtual: Quais as principais questões abordadas no livro?
O livro trata da pesquisa científica em terapia gênica em geral, não é focalizado em um único projeto. A preparação dos originais exigiu, naturalmente, uma atualização sobre o andamento dos estudos experimentais e clínicos em curso no mundo, mas isto faz parte de minha rotina pelo engajamento de parte de meu grupo de pesquisa nesta área, bem como das atividades de coordenação da Rede de Terapia Gênica. Aproveitei ainda para abordar a exploração da idéia de terapia gênica na mídia, particularmente no âmbito da ficção científica, pois essa é uma das formas pelas quais, freqüentemente, o grande público tem seu primeiro contato com conceitos científicos.
Olhar Virtual: O que a pesquisa relatada no livro apresenta de inovador no tratamento de doenças incuráveis?
É preciso entender que terapia gênica é uma área de pesquisa ainda experimental no mundo inteiro. A maior parte da pesquisa é fundamental ou pré-clínica. Apenas alguns casos particulares estão mais adiantados em ensaios clínicos e, por conseguinte, mais próximos de fornecer novas alternativas de aplicação médica. No entanto, esta área de pesquisa tem o potencial de fornecer tratamento para doenças genéticas ainda incuráveis ou refratárias aos tratamentos disponíveis, com base na inserção de genes sadios nos organismos doentes.
Olhar Virtual: Como são desenvolvidas na UFRJ as pesquisas na área de terapia gênica?
A UFRJ possui grupos de pesquisa desenvolvendo ou colaborando em projetos sobre terapia gênica nas áreas de doenças pulmonares, retinopatias degenerativas, doenças isquêmicas e tecnologia de vetores não-virais. Aqui na Universidade, os estudos se desenvolvem no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho e no Instituto de Ciências Biomédicas, e trata-se de pesquisa básica ou pré-clínica.
Olhar Virtual: O livro utiliza uma linguagem simples para abordar um tema que, para leigos, possui certa complexidade. Qual a importância de facilitar ao público o acesso à linguagem científica?
De modo geral, a linguagem da ciência e o jargão dos laboratórios são complexos e áridos, o que tende a afastar ou mistificar os não-iniciados. Daí a necessidade de simplificar a linguagem de comunicação com a sociedade em geral, mas sempre atentando para manter o rigor científico, evitando assim a criação de mitos ou falsas expectativas a respeito do objeto de pesquisa. Esta, independente de ser fundamental ou aplicada, beneficia a sociedade tanto por ampliar os horizontes intelectuais do ser humano e sua compreensão do mundo, quanto pelo seu eventual uso para melhorar a qualidade de vida. A divulgação científica deve destinar-se a que o maior número possível de pessoas compreenda os objetivos, o alcance e também as dificuldades e os riscos associados a certas áreas de investigação.
Em todo o mundo e particularmente no Brasil, a pesquisa é financiada predominantemente com recursos públicos. Em outras palavras, a sociedade paga pela pesquisa científica através da carga tributária. Tem, portanto, direito a saber o que se faz com esses recursos e é dever do cientista fazer-se entender. Assim, eu acho muito importante que, em paralelo com as publicações e documentos técnicos, debates em congressos e outras formas de discussão e divulgação especializada, o cientista reserve uma parte de seu esforço para ampliar o círculo de pessoas que compreendam e tenham interesse pelo seu objeto de investigação. Isto, por um lado, amplia os horizontes do leigo e, em contrapartida, aumenta o apoio da sociedade ao investimento em ciência e tecnologia.