De Olho na Mídia

Mídia pode ser aliada no combate ao tabagismo

Vanessa Sol

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Todos os anos são registradas, aproximadamente, 5 milhões de mortes em decorrência do consumo de tabaco. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), este panorama revela uma epidemia mundial de tabagismo.

O recente estudo realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) e pelo Instituto de Saúde Coletiva (IESC-UFRJ) constatou que, pelo menos, 2.655 pessoas morrem por ano em conseqüência de doenças atribuíveis ao consumo passivo de tabaco, o que corresponde a 7 mortes por dia. As doenças mais comuns relacionadas ao tabagismo passivo são: câncer de pulmão, doenças isquêmicas do coração, como infarto, e acidentes vasculares cerebrais. Esses casos poderiam ter sido evitados, se os fumantes passivos – pessoas que nunca fumaram – não tivessem contato intradomiciliar com fumantes ativos.

Mas quais poderiam ser os aliados na difícil tarefa de mostrar não somente os malefícios que o fumo provoca ao organismo, tanto de fumantes ativos quanto de passivos, mas também os benefícios da prevenção ao fumo?

Segundo o coordenador do estudo e professor do IESC, Antonio José Leal, a mídia seria um desses aliados. Ela deveria atuar de maneira mais incisiva no combate ao tabagismo e, principalmente, na prevenção do ato de fumar, na redução da freqüência que a pessoa fuma ou que começa a fumar.

Mencionar apenas os aspectos negativos, na opinião do professor, não é uma estratégia apropriada, uma vez que o ser humano consegue aderir mais ao positivo do que ao negativo. Nesse sentido, a mídia deveria mostrar os efeitos benéficos de não fumar. “As campanhas devem estar voltadas ao desestímulo do ato de fumar. Se você ficar batendo na tecla de que fumar mata, você acaba não persuadindo o outro”, avalia Leal.

O desenvolvimento de campanhas contra o tabagismo tem sido cada vez mais presente. A nova legislação vigente não permite a publicidade de cigarros, o anúncio. Para o professor, isso é um grande avanço. “A decisão não partiu dos meios de comunicação, mas foi algo pensando nas gerações futuras. Isso é um avanço na política de prevenção ao tabagismo”, declara.

Outra divulgação que poderia ser feita pela mídia, de acordo com o professor, é a exposição dos resultados da cessação do hábito de fumar.

No passado, a publicidade da indústria do cigarro atribuía valores ao produto que levam ao consumo. Toda uma geração cresceu vendo o cigarro associado a status, a liberdade, a juventude e a vitalidade, ou seja, a um estilo de vida que não condiz com as conseqüências que o fumo traz ao organismo. De acordo com Leal, criava-se uma associação positiva no indivíduo que perdura a vida inteira. O efeito da política de limitação do uso não ocorre imediatamente. Os impactos e resultados serão vistos a longo prazo. “A melhor prevenção é evitar que as pessoas comecem a fumar. A nicotina tem uma capacidade muito elevada de viciar”, afirma.

Outra questão colocada pelo professor é risco involuntariamente a que é submetido os que não fumam. “Os fumantes precisam entender que estão expondo outras pessoas, inclusive, no ambiente domiciliar”, ressalta Leal.

Hoje, é possível encontrar no verso dos maços de cigarro imagens dos danos que as substâncias tóxicas presentes no cigarro podem causar. Na década de 50, época em que o consumo do fumo foi estimulado, não se sabia que o cigarro fazia mal, mas hoje, com os estudos que foram feitos, sobretudo pela Organização Mundial de Saúde (OMS), já é possível conhecer os danos que ele provoca.

O Rio avançou em sua legislação específica com a entrada em vigor, no último dia 31 de maio, do decreto municipal que proíbe o fumo em locais fechados, sejam eles públicos ou privados.

O consumo do tabaco tem se tornado cada vez mais polêmico e controverso, trazendo à tona uma série de discussões acerca do tema. Se, por um lado, fumantes se sentem perseguidos, uma vez que fumar é um direito que qualquer cidadão tem, respeitados os limites de idade; por outro, não-fumantes se sentem incomodados em ter que dividir involuntariamente espaço com a fumaça alheia.

Pioneirismo

É a primeira vez que um estudo desta natureza é realizado no Brasil. A estimativa de óbitos, segundo Leal, é conservadora porque foram levados apenas três aspectos em consideração: o câncer de pulmão, as doenças isquêmicas do coração e as doenças cérebro-vasculares.

Ao que tudo indica, o tabagismo pode ser considerado para ambos os casos um fator de risco à saúde.

Há outras causas, que não foram relacionadas no trabalho, ocasionadas pelo contato excessivo com a fumaça do cigarro. São elas: a morte súbita na infância, baixo peso em bebês, asma, problemas respiratórios, problemas na gestação.

Riscos

Em locais de trabalho, como restaurantes, por exemplo, o trabalhador fica exposto durante muitas horas à fumaça. Nesse caso a proteção que ocorre aos não fumantes não pode ser verificada com os trabalhadores, já que circulam pelas diferentes áreas e estão em contato direto com a fumaça ambiental. Esses trabalhadores correm mais riscos de serem acometidos por doenças atribuíveis ao tabaco.

Outra situação comum de risco aos não fumantes, com possibilidades de adquirir doenças atribuíveis, é a convivência intradomiciliar, isto é, contato direto com alguém que fuma dentro do ambiente domiciliar.

Tratamento

Hoje, o Sistema Único de Saúde já oferece a possibilidade de tratamento medicamento e acompanhamento psicológico àqueles que desejam parar de fumar.