“Reforma Universitária proposta pelo governo
Lula é regressista”
O
professor Roberto Leher, considerado um dos grandes defensores da
universidade pública, considera que o projeto de reforma
universitária do governo é um passo para a privatização
das universidades. Segundo Leher, a entrada de Tarso Genro no Ministério
da Educação vai acelerar o processo.
O professor informa que o governo já começou o movimento
pela reforma. A equipe econômica teria tomado três iniciativas
para que a universidade pública passe a atender demandas
do mercado. A primeira delas seria tentar aprovar no Congresso a
parceria Público-Privada, onde as universidades públicas
poderiam prestar serviços para empresas. Além disso,
esse parceria permitiria que o governo pudesse comprar vagas para
alunos em universidades particulares e transformá-las em
vagas públicas. A segunda iniciativa diz respeito à
Lei de Inovação Tecnológica. Por essa lei,
laboratórios das universidades públicas poderiam ser
utilizados por empresas e professores, enquanto técnico-administrativos
poderiam ser contratados por essas empresas, por um prazo de dois
anos, segundo às leis trabalhistas privadas. A terceira iniciativa
justifica as duas anteriores e foi prevista no relatório
interministerial sobre a reforma universitária entregue ao
presidente em janeiro: é a visão de que a universidade
pública precisa captar recursos no mercado para se auto-financiar.
Leher considera essa filosofia muito danosa às universidades
e diz que a universidade precisa ter autonomia para financiar os
recursos que recebe do governo federal e não parar de receber
esses recursos para procurá-los no mercado. Ele exemplifica
dizendo que nos EUA, que é um país onde as maiores
universidades são particulares, apenas 7,5% das verbas destinadas
à elas são privadas. O restante é investimento
governamental.
Nesse sentido, essas medidas do governo estariam seguindo às
ordens do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional
(FMI). Segundo essas instituições, na América
Latina, não é viável que o Estado sustente
a educação superior.
Leher considera esta afirmação injusta e já
aponta os problemas se essa reforma for feita nos moldes previstos
pelo governo: a qualidade do ensino vai cair. “Não
haverá mais debates na universidade e estaremos na academia
só para atender à lógica empresarial, que defende
mais produção em menos tempo...”, lamenta.
Apesar disso, o professor diz que, dentro das universidades, há
uma discussão saudável para reformular as universidades
públicas. “Queremos ampliar o número de vagas
com qualidade e colocar a universidade pública como protagonista
da construção de um país melhor”, declara.
Quando perguntamos sobre uma possível greve em retaliação
às intenções do governo, o professor, que liderou
a greve das Instituições Federais de Ensino Superior
em 2001, pondera que primeiro haverá muita discussão,
que é preciso abrir o debate. Sabe que um entendimento vai
ser difícil, mas já há um bom número
de pessoas e intelectuais que estão fazendo coro contra a
proposta do governo: Maria Helana Chauí e alguns reitores,
junto com centenas de estudantes, que compareceram recentemente
à duas palestras de Leher sobre o assunto em Sergipe e na
Bahia.
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