Painel de Argumentos
07.12.2004
A ciência que nos cerca
Opinião da professora Ilana Polistchuck a respeito do analfabetismo tecnológico e científico, suas causas e soluções

“O problema não é a fragmentação em áreas, visto que isto está vinculado ao método de estudo - se recorta o objeto para poder melhor avaliá-lo - e é impossível que tal processo não ocorra e que exatamente isso possibilite a geração de modelos específicos (e necessários até, como, por exemplo, o oftalmologista que trata das doenças inflamatórias ou o antropólogo que vai setorizar as culturas em sociedades complexas); o problema é quando este pesquisador médico ou antropólogo não contextualiza historicamente (e transdisciplinarmente) aquilo que estuda, identificando as características, por exemplo, de mercado e de ideologia de seu objeto de estudo.
Observamos fragmentações (ou, ao contrário, junções) por vezes desnecessárias, especificamente no estabelecimento de cursos de graduação que estão ligados aos interesses mais diversos possíveis, desde os dos próprios setores da docência - que estabelecem verdadeiras lutas políticas grupais ou pessoais e se apropriam do espaço científico intra-universitário – até setores externos (instituições outras), cujos objetivos são mais imediatistas. Entretanto, penso que este movimento não é um bicho-de-sete-cabeças, apenas temos dificuldade de democratizar mais estas decisões que ficam circunscritas a decisões até pessoais. Por outro lado, muitas das realizações (se não a maioria) das universidades públicas (e privadas) se devem exatamente a posturas individuais e pioneiras de docentes. Esta discussão é mais complexa, exige um olhar de maior alteridade, mais dialético, menos maniqueísta.
Nossa sociedade é heterogênea, com um grande grupo que encontra enorme dificuldade para acessar o saber e a técnica mais formalizados (dentro das instituições de saber fundamental, médio e superior). Tecnologia é a aplicação da produção científica, portanto o termo deve ser usado para os modelos gerados por todos os campos da ciência. De qualquer forma, não considero os diversos <i>Brasis</i> e seus centros científicos repletos de analfabetos científicos e tecnológicos, ao contrário, percebo uma produção imensa, nas universidades, em ciências naturais e humanas, só que mais sistematizada em determinadas áreas, que conseguem maior fomento e até alguma visibilidade midiática (pouca já que a pauta é para a produção científica internacional). Quanto a ligação da sociedade em geral com as tecnologias que a cercam, trata-se, provavelmente, de uma área da comunicação científica dentro e fora da escola formal e, embora tenhamos problemas gravíssimos com respeito à educação (e políticas de educação), ainda sobrevivemos. Nosso problema é com o analfabetismo em geral”.


Ilana Polistchuck
é Mestre em Comunicação
e graduada em Medicina
pela UFRJ

 

   

 

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