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Para a maioria dos brasileiros, a escravidão não existe mais. Entretanto, isso não é verdade para todos os brasileiros. No livro Trabalho Escravo Contemporâneo – Um Debate Transdisciplinar (Editora Mauad, 296 páginas, R$ 46), os pesquisadores Ricardo Rezende Figueira, Adonia Antunes Prado e Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior, do Grupo de Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC/UFRJ), debatem a existência do trabalho escravo. A professora Adonia Prado concedeu entrevista ao Olhar Virtual a fim de falar um pouco do conteúdo do livro.
A partir das últimas décadas, em especial, a partir de 1970, denúncias de trabalho escravo praticado no Brasil começaram a surgir. Era necessário produzir algum estudo para auxiliar no combate a essa prática. Com essa necessidade, surgiram pesquisas para auxiliar nesse campo. O GPTEC/UFRJ é um grupo que realiza essas pesquisas e nasceu para isso. “Militantes católicos pelos direitos humanos, militantes de partidos e de entidades da sociedade civil levaram a luta adiante tendo a mesma chegado, ainda nos anos dos governos militares, a organismos internacionais, além dos órgãos superiores dos três poderes da nossa República”, explica a professora Adonia Prado.
Os relatos vindos desde a época da ditadura fizeram despertar o interesse de pesquisadores para essa área. É a partir de estudos pioneiros como os de José de Souza Martins, Neide Esterci e Alfredo Wagner que o GPTEC/UFRJ realiza suas pesquisas, pois “esses intelectuais tiveram o mérito de dar início à discussão do tema dentro do espaço acadêmico universitário, ampliando, assim, um campo de preocupações e de questionamentos anteriormente forjado pelos militantes de direitos humanos nos anos difíceis da ditadura”, define a professora.
Além de ser um assunto ignorado por boa parte da população, a escravidão contemporânea causa muita divergência entre seus próprios pesquisadores: há diversas análises sobre os mesmos aspectos. E é exatamente nesse ponto que o livro vem para ajudar, num reflexo dos estudos do GPTEC/UFRJ. Segundo a pesquisadora, “é o que o GPTEC/UFRJ vem fazendo desde 2005 por meio da realização de seminários e reuniões científicas, nas quais o tema tem sido discutido por estudiosos das áreas Jurídica, da Antropologia, da Sociologia, das Ciências Econômicas, da História, das Relações Internacionais etc.”
A escravidão não é algo novo. No Brasil, ela existe desde a colonização e tem sua principal motivação no caráter econômico e “trata-se da tentativa de cortar custos a qualquer preço, ainda que seja negando a condição humana dos trabalhadores atingidos”, diz Prado. Sua motivação econômica está ligada também ao valor da mercadoria, quando os responsáveis pelo trabalhador escravo rompem “pactos de lealdade por dentro da própria classe de proprietários e empresários, na medida em que os produtos do trabalho escravo tendem a competir com vantagem no mercado”, completa a professora.
Com essa obra, muitas informações são dadas e aplicadas de forma a produzir novas áreas de conhecimento sobre o assunto. Mas, além de produzir conhecimento, o livro, associado aos estudos que o produziram e aos que serão produzidos a partir dele, tem no seu aspecto informacional um outro objetivo: “temos interesse em contribuir, com a ampliação da discussão do tema, no trabalho que visa à extinção desse crime em nosso país, obra que já conta com amplos setores da sociedade brasileira”, crava a pesquisadora.