Entrelinhas

Um perfil dos estudantes de Serviço Social

 

Nathália Machado – Agência de Notícias da Praia Vermelha

Divulgação

 O professor Pedro Simões realizou uma pesquisa sobre o perfil dos alunos de Serviço Social, publicada no livro Gênero, origem social e religião – Os estudantes de Serviço Social do Rio de Janeiro (Editora E-Papers. 164 páginas. R$ 28,00). Além da UFRJ, outras cinco universidades são analisadas: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Veiga de Almeida, Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), Universidade Castelo Branco e Pontifícia Universidade Católica – Rio. O objetivo da obra é procurar entender o estereótipo do estudante de Serviço Social, marcado pela figura da mulher envolvida com trabalhos comunitários, políticos, atividades sociais e religiosas de camadas populares.

Simões conta que a ideia para a pesquisa partiu de três motivações principais: “A primeira estava relacionada ao tema da religião. À época, buscava indícios de que a presença da religião era relevante na formação profissional dos assistentes sociais. Nos questionários que apliquei com os alunos constavam questões sobre a origem e a participação religiosa deles. A segunda motivação está relacionada à ausência de informações sobre quem são os alunos que hoje escolhem a profissão de ‘Serviço Social’. Desta forma, era importante trazer dados novos sobre o perfil discente, já que se discute o perfil do aluno que se deseja formar, mas pouco se sabe do perfil do aluno que ingressa nos cursos. Por último, e em decorrência da motivação anterior, buscava-se criar uma série histórica com dados discentes. Conseguimos esse objetivo, e o livro traz dados dos alunos de 1999 e 2006-7. Com a publicação, pesquisadores e acadêmicos têm à disposição um conjunto amplo de dados para discutir as motivações para a escolha da profissão.”

Com relação às inovações provenientes da pesquisa, o professor indica dois tipos de descobertas mais surpreendentes. “O primeiro, resultado de uma visão geral, que busca identificar o que há de comum entre os alunos; o segundo, ao contrário, decorrente da ênfase nas diferenças. No primeiro caso, o que chama atenção é a predominância feminina oriunda de segmentos sociais que buscam ascender socialmente através da universidade ou manter-se no status em que já se encontram. A mobilidade identificada, no entanto, é mais educacional que econômica. Além disso, são alunos sem tradição de vínculos, participações ou mesmo preocupações políticas mais gerais. A politização dos assistentes sociais ocorre (quando ocorre) durante a formação acadêmica. Entretanto, esta se adiciona às preocupações sociais que os estudantes têm a partir da base religiosa e de trabalhos voluntários”, afirma Simões, que completa: “No campo das diferenças, a pesquisa demonstrou um efeito de composição, ou seja, a média etária geral dos alunos é o resultado do número de cursos públicos e privados, diurnos, vespertinos e noturnos existentes. Cada tipo de curso atrai um alunado com perfil específico.”

Quando questionado a respeito das conclusões sobre o estereótipo da mulher, Pedro Simões acrescenta: “O curso de Serviço Social permanece como uma opção de ingresso na universidade de parte das alunas que está no limite para o ingresso no nível superior. Além de Serviço Social, cursos como o de Pedagogia, Letras e Enfermagem abarcam alunas com perfil bastante semelhante daquele encontrado no Serviço Social. Se em todos esses cursos há um claro viés de gênero, há também uma demarcação de origem social: são alunas que, na comparação com os demais  universitários, provêm de famílias mais empobrecidas. Desta forma, além da identidade de gênero e de origem social, há uma preocupação que não é decorrente da política, mas da religião e da ação voluntária não politizada. É o ideário de ‘fazer alguma coisa pelo outro’ que atrai os alunos para a profissão”, finaliza.