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Faculdade de Letras completa 40 anos

Aline Durães

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Quando os militares chegaram ao poder em 1964, alguns grupos estudantis se organizaram em oposição ao Golpe. Um dos mais expressivos estava locado na Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), que congregava, entre outros, os cursos de Licenciatura e de Ciências Sociais da UFRJ. O ambiente de resistência política ali existente era tamanho que uma das providências da Reforma Universitária engendrada pela Ditadura em 1968 foi a de desmembrar a faculdade.

Um dos frutos dessa divisão foi a Faculdade de Letras (FL/UFRJ) que, em março deste ano, completa 40 anos de existência. Embora tenha sido afastada dos cursos ligados às áreas de História e Filosofia, a FL/UFRJ, que consistia em um departamento na composição original da FNFi, ainda hoje carrega a atribuição de pensar o mundo e de avaliar com olhos críticos a realidade social brasileira:

- A Faculdade de Letras sempre foi um lugar muito interessante e de muita inquietação, com discussões relevantes. As pessoas aqui não refletem apenas sobre a Literatura, mas sim sobre a vida – destaca Ronaldo Lima Lins, diretor da unidade.

Com sete departamentos e mais de quatro mil alunos, a principal vocação da unidade é o magistério. Isso não diminui, no entanto, a contribuição que a FL/UFRJ dá para a vida intelectual do país no nível dos debates e reflexões. Ronaldo Lima Lins enfatiza o ambiente democrático, no qual opiniões das mais diversas correntes ideológicas e de crítica podem surgir, como um dos pontos fortes da faculdade.

- Por isso, de todas as faculdades de Letras que eu conheço, essa é a mais ampla, menos provinciana e mais efervescente – elege.

A vinda para o Fundão

Um dos episódios mais marcantes da história da Faculdade de Letras foi a realocação de suas atividades na Ilha da Cidade Universitária. Até janeiro de 1985, a FL/UFRJ funcionava na avenida Chile, no Centro do Rio de Janeiro. Inicialmente, o prédio, construído para abrigar a Exposição Portuguesa, serviria apenas como uma sede provisória, mas por 18 anos as aulas da unidade foram ministradas ali.

- O prédio, embora possuísse qualidades, tinha uma infra-estrutura precária, pois o material usado na construção era ruim. No início, não havia sequer salas de aula. Os docentes dividiam o mesmo espaço para as aulas. Quando chovia, o professor tinha que lecionar de guarda-chuva. Aos poucos, salas foram sendo construídas, mas sempre de forma precária.

O cenário era desolador, mas a faculdade e as pessoas eram interessantes – conta Ronaldo.

A vinda para um prédio próprio na Ilha do Fundão, decisão tomada em assembléia pela comunidade acadêmica da faculdade, trouxe melhorias para a FL/UFRJ. O novo espaço físico possibilitou a expansão dos serviços prestados pela unidade. Foi criado, por exemplo, um curso de japonês; e a Pós-graduação, a mais antiga do país na área de Letras, ganhou fôlego. O número de alunos e de diplomas concedidos também cresceu.

Apesar disso, a restrição de verbas ainda se configura em um dos principais desafios enfrentados pela FL/UFRJ. Embora as atividades da unidade independam de equipamentos caros e de grandes laboratórios, a dificuldade em obter recursos é significativa.

- Nós trabalhamos essencialmente com idéias, com teorias. A faculdade em si não é uma atividade cara. Ela não recebe recursos porque estamos em um país que desprestigia qualquer área cultural. Tivemos que aprender a viver assim: transformando a miséria em grandeza – observa Ronaldo.

Comemorações

No último dia 18 de março, a FL-UFRJ iniciou as comemorações pelo seu 40º aniversário. A aula inaugural Repensando a democracia, proferida por Eduardo Portella, ex-ministro da Educação e Cultura e atual professor emérito da UFRJ, marcou o início das celebrações.

Além desta, a unidade está programando um evento comemorativo, intitulado O sonho, a liberdade e a ação, que irá problematizar os 40 anos dos movimentos libertários de 1968.