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“O
problema não é a fragmentação em áreas,
visto que isto está vinculado ao método de estudo - se recorta
o objeto para poder melhor avaliá-lo - e é impossível
que tal processo não ocorra e que exatamente isso possibilite a
geração de modelos específicos (e necessários
até, como, por exemplo, o oftalmologista que trata das doenças
inflamatórias ou o antropólogo que vai setorizar as culturas
em sociedades complexas); o problema é quando este pesquisador
médico ou antropólogo não contextualiza historicamente
(e transdisciplinarmente) aquilo que estuda, identificando as características,
por exemplo, de mercado e de ideologia de seu objeto de estudo.
Observamos fragmentações (ou, ao contrário, junções)
por vezes desnecessárias, especificamente no estabelecimento de
cursos de graduação que estão ligados aos interesses
mais diversos possíveis, desde os dos próprios setores da
docência - que estabelecem verdadeiras lutas políticas grupais
ou pessoais e se apropriam do espaço científico intra-universitário
– até setores externos (instituições outras),
cujos objetivos são mais imediatistas. Entretanto, penso que este
movimento não é um bicho-de-sete-cabeças, apenas
temos dificuldade de democratizar mais estas decisões que ficam
circunscritas a decisões até pessoais. Por outro lado, muitas
das realizações (se não a maioria) das universidades
públicas (e privadas) se devem exatamente a posturas individuais
e pioneiras de docentes. Esta discussão é mais complexa,
exige um olhar de maior alteridade, mais dialético, menos maniqueísta.
Nossa sociedade
é heterogênea, com um grande grupo que encontra enorme dificuldade
para acessar o saber e a técnica mais formalizados (dentro das
instituições de saber fundamental, médio e superior).
Tecnologia é a aplicação da produção
científica, portanto o termo deve ser usado para os modelos gerados
por todos os campos da ciência. De qualquer forma, não considero
os diversos <i>Brasis</i> e seus centros científicos
repletos de analfabetos científicos e tecnológicos, ao contrário,
percebo uma produção imensa, nas universidades, em ciências
naturais e humanas, só que mais sistematizada em determinadas áreas,
que conseguem maior fomento e até alguma visibilidade midiática
(pouca já que a pauta é para a produção científica
internacional). Quanto a ligação da sociedade em geral com
as tecnologias que a cercam, trata-se, provavelmente, de uma área
da comunicação científica dentro e fora da escola
formal e, embora tenhamos problemas gravíssimos com respeito à
educação (e políticas de educação),
ainda sobrevivemos. Nosso problema é com o analfabetismo em geral”.
Ilana Polistchuck
é Mestre em Comunicação
e graduada em Medicina
pela UFRJ
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